O deputado Marcos Medrado (PDT-BA) confirmou que
negociou com João Carlos Bacelar (PR-BA), acusado de comprar emendas de colegas,
a destinação de verba ao Orçamento, mas negou ter recebido dinheiro por
isso.
Marcos Medrado diz que destinou verba para base
eleitoral de João Bacelar, em troca de apoio do prefeito à sua
campanha
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA . O deputado federal Marcos Medrado (PDT-BA)
confirmou ontem que negociou com o colega João Carlos Bacelar (PR-BA) a
destinação de uma emenda individual ao Orçamento da União para um município da
base eleitoral de Bacelar. Segundo Medrado, a emenda, de cerca de R$ 2 milhões,
teria sido entregue ao colega em troca do apoio de um prefeito do interior à sua
campanha eleitoral:
- Posso estar errado, mas o que ocorreu foi que, na
campanha passada, fui votado no município de Teofilândia. O prefeito não queria
mais votar nele (Bacelar) e votou comigo. Mas aí ele me pediu: "Olha, combine
com o deputado Bacelar e destine para ele o mesmo valor que ele deu pra cá, de
aproximadamente R$ 2 milhões" - explicou o deputado.
Medrado foi o deputado mais bem votado
Marcos Medrado foi, de fato, o deputado mais bem votado
na cidade, com 3.561 votos. Já Bacelar teve apenas 20 votos. A prova inequívoca
do poder financeiro da negociação é a comparação com o pleito anterior, de 2006.
Nele, Bacelar tinha sido o terceiro deputado mais votado da cidade, com 493
votos, e Marcos Medrado conseguira três votos.
Teofilândia era então um reduto de Fernando de Fabinho
(DEM-BA), ex-deputado que figura na tabela usada por Bacelar para acompanhar
emendas parlamentares destinadas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Paranaíba (Codevasf). Como não concorreu na eleição de 2010,
Fabinho deixou na cidade o espólio de seus 4.046 votos obtidos em 2006. Após o
acerto com Bacelar, Medrado herdou esse capital. Medrado nega, no entanto, que
tenha havido negociação financeira envolvendo as emendas.
- Não faço isso de vender emenda e nunca fiz. Eu
compensei ele (sic) em outra cidade com uma emenda do mesmo valor da que ele
tinha dado para lá. Fiz isso porque o prefeito tinha compromisso com o Bacelar e
aí compensei em outros municípios - afirmou Medrado.
No último domingo, O GLOBO revelou a existência de um
esquema de venda de emendas na Câmara dos Deputados. Segundo a ex-mulher de
Bacelar, Isabela Suarez, filha de um dos maiores empreiteiros da Bahia, o
deputado comprava emendas de vários parlamentares que o procuravam em busca de
recursos para campanha.
Bacelar tinha, inclusive, uma tabela pela qual
acompanhava os recursos enviados por dois deputados - Geraldo Simões (PT-BA) e
Marcos Medrado - e um ex-deputado federal, Fernando de Fabinho. Isabela contou à
irmã de Bacelar, Lílian Bacelar, que Geraldo Simões seria um dos deputados
federais que venderam emendas para o ex-marido.
De acordo com a tabela, Medrado havia enviado duas
emendas para cidades onde Bacelar foi o deputado mais votado: R$ 2 milhões para
Canarana e outros R$ 2,5 milhões para Ibipeba. Procurada, a Codevasf, que
recebeu os recursos, informou que Medrado alterou, no fim do ano passado, o
destino do dinheiro dessas cidades para o município de Paramirim.
- Quando surgiram as denúncias com ele no ano passado,
disse para ele que ia tirar as minhas emendas de lá e colocar nas minhas bases -
explicou Medrado, referindo-se às revelações feitas ano passado pela revista
"Veja", de que Bacelar destinava emendas parlamentares para prefeituras, que
contratavam posteriormente a empreiteira de sua família, a Embratec, para
realizar as obras.
O balcão de negócios envolvendo as emendas
parlamentares poderá começar a ser investigado ainda esta semana na Câmara dos
Deputados. O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), entregará hoje ao presidente da
Casa, Marco Maia (PT-RS), um memorando de cinco páginas pedindo que ele solicite
à Corregedoria a apuração do esquema. O deputado pede também que a Câmara apure
as acusações de direcionamento de emendas parlamentares para a construtora da
família de Bacelar.
Deputado quer apurar quebra de decoro
"As denúncias são gravíssimas e impõem à Corregedoria
da Casa a devida apuração com a adoção das medidas cabíveis, no curto prazo que
a gravidade do caso requer, a fim de coibir tais práticas, preservar a imagem da
Câmara dos Deputados e punir possível quebra da ética e do decoro parlamentar",
diz o memorando.
O GLOBO - 19/06/2012
wwwcamacarimagazine.blogspot.com
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