Pela
primeira vez, a Justiça Eleitoral disponibilizou aos eleitores a lista
com a identificação dos doadores e fornecedores contratados durante o
curso da campanha eleitoral. Ao todo, os valores repassados para
candidatos chegaram à cifra de R$ 395,2 milhões. Contudo, os dados
apresentados ainda não são totalmente claros em relação à origem do
financiamento das campanhas eleitorais de 2012.
O pemedebista Eduardo
Paes, por exemplo, candidato à reeleição para prefeito da cidade do Rio
de Janeiro, arrecadou R$ 2,9 milhões, o maior montante no ranking de
doações. Porém, R$ 2 milhões foram repassados pelo Diretório Nacional do
partido e R$ 534,9 mil pelo Comitê Financeiro Municipal Único.
O
mesmo aconteceu com a segunda maior receita entre os candidatos, obtida
por Luciano Ducci (PSB-PR): R$ 2,5 milhões. Do total, R$ 2,2 milhões
foram repassados pelo Diretório Nacional do partido. O candidato à
prefeitura de São Paulo, José Serra (PSDB - SP), é outro exemplo. O
político paulista já arrecadou R$ 1,5 milhão: todo o montante foi
repassado pelo Comitê Financeiro Municipal para Prefeito.
O repasse de recursos do
partido para o candidato é permitido pela própria legislação eleitoral.
Para o professor de ética e política, Roberto Romano, esse “desvio de
informação” não surpreende. “No Brasil, os partidos políticos são
verdadeiras caixas pretas, o que os torna elementos de afastamento e
obscuridade para com o eleitor. Esse procedimento, que é mantido há
muito tempo, não iria mudar de uma hora para outra”, ressalta.
Essa brecha na lei
construiu uma situação interessante em relação às receitas para
financiamentos de campanha. Os candidatos gastaram apenas R$ 184,4
milhões do total arrecadado. Enquanto isso, os partidos políticos, que
receberam R$ 53,4 milhões, já tiveram despesas de R$ 360,4 milhões. O
mesmo movimento aconteceu com os comitês de campanha, que arrecadaram R$
51,6 milhões e tiveram despesas de R$ 408 milhões.
A principal explicação
para a diferença entre receita e despesa é a utilização do Fundo
Partidário, recursos públicos destinados à manutenção e operação das
agremiações políticas do país no financiamento das campanhas dos
partidos. Ao todo as agremiações partidárias já receberam R$ 201,1
milhões por essa forma de pagamento em 2012.
Romano explicou também
que a divulgação parcial da prestação de contas durante o processo
eleitoral é, sim, grande avanço na justiça eleitoral, mas continua muito
limitada. “A maioria da sociedade ainda não presta atenção nesse tipo
de dado, que atinge uma faixa não muito profunda e extensa da
cidadania”.
Contudo, segundo o
professor, esse é o caminho certo. “Com a prática se amplia a
frequência, ou seja, quanto mais houver prestação de contas por parte
dos candidatos, mais os cidadãos vão ficar acostumados a lidar com esse
tipo de informação e votar de maneira consciente, no sentido de atenuar a
corrupção”, explica.
A mesma ideia é
compartilhada pela diretora do Movimento Contra Corrupção Eleitoral
(MCCE), Jovita Rosa. “O que fica perceptível é que a transparência cabe
em todos os lugares. Se os representantes estão fazendo tudo para
merecer o voto dos cidadãos, nada mais justo que saber os valores
utilizados na campanha. Nós avançaremos muito no combate a corrupção por
meio da transparência de informações como esta”, explica.
A determinação para
prestação de contas parcial foi dada pela presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha em
cumprimento à Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011). Os dados
apresentados pelos candidatos e partidos na primeira prestação de contas
parcial já podem ser acessados no site do Tribunal (link).
Até a última eleição
geral, ocorrida em 2010, os eleitores só tinham acesso à lista de
doadores e fornecedores após a realização do pleito, quando da entrega
da prestação de contas final dos candidatos.
A lista dos doadores e
fornecedores divulgada na sexta-feira (24) é a declarada pelos
candidatos em 2 de agosto, quando encerrou-se o prazo para entrega da
primeira prestação de constas parcial. Em 6 de agosto, o TSE divulgou
os valores recebidos e gastos pelos candidatos e declarados na referida
prestação. Os candidatos têm até 2 de setembro para apresentar a segunda
prestação de contas parcial.
Os dados declarados pelos
candidatos estão no formato Excel, e os interessados podem fazer a
pesquisa, entre outros, pelos seguintes comandos: Estado, município,
partido, cargo, nome ou CPF do candidato, nome do doador e valor da
receita.
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quarta-feira, 29 de agosto de 2012
TSE divulga doadores, mas transparência ainda não é a ideal
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