sábado, 7 de fevereiro de 2015

De cães raivosos e como tratá-los

    


Xilogravura medieval mostrando como se lida com um cão raivoso.
Xilogravura medieval mostrando como se lida com um cão raivoso.
“Fanático é o homem que acha que o outro está errado em tudo, por estar errado em alguma coisa.” Essa frase, obviamente, não é minha, mas do grande (literal e alegoricamente) Gilbert Keith Chesterton. E o fanatismo, ao menos como Chesterton o colocou, é, decerto, um dos grandes problemas que enfrentamos hoje em dia.
A ausência de capacidade de diálogo com o outro cria tensões inócuas que apenas alimentam crises que, para começo de conversa, não deveriam sequer ser crises – ou, pelo menos, não tão graves quanto se tornam. Esse fanatismo consiste em uma determinada determinação (parafraseando Santa Teresa d’Ávila) em se aferrar à própria visão deturpada do mundo, em deformar a realidade conforme as parcas e mal fundadas concepções sobre ela – concepções que são fruto de pura propaganda ideológica, daquele sentimentalismo ativista que procura não compreender o mundo, mas apenas moldá-lo e mudá-lo a seu bel-prazer.
Temos a tendência a pensar que apenas o “outro lado” – marxistas, fabianos, leninistas, trotskistas, stalinistas, maoístas, gramscianos, enfim, coletivistas e estatistas de todos os graus – possui um pendor ontológico, se é que podemos defini-lo assim, para padecer desse mal. Isso não é verdade. Essa tendência não é exclusiva de pessoas que advogam esta ou aquela ideologia política, mas algo que pertence à própria natureza humana, decaída como é. E um expediente muito, muito comum é a utilização de todo tipo de falseamento, mentira, burla, das mais simples (como simplesmente aumentar uma história, ou seja, “enfeitar o pavão”) às mais abjetas (como elaborar minuciosamente uma farsa tendo a mais plena consciência do que ela representa e da gravidade do que significa).
Há certa classe de pessoas que se autointitulam conservadores, liberais e libertários que é muito dada à utilização de táticas desse tipo. Para elas, não importa o que deve ser feito para humilhar quem se vê como inimigo: tudo é permitido, tudo é lícito. Para essas pessoas, os fins louváveis de se combater um adversário justificam o recurso às maneiras mais pérfidas, vis e abjetas de assassínio de reputação. Não considero que essas coisas sejam absurdas pelo fato de algumas delas serem, inclusive, crimes tipificados na legislação. Isso é secundário. O essencial, aqui, é a certeza bem alicerçada no espírito de que, para se combater um monstro, é preciso se tornar um monstro ainda pior e mais medonho.
Se a coisa já seria preocupante em se tratando de conservadores, liberais e libertários que utilizam essas práticas abomináveis contra seus adversários coletivistas, estatólatras e quejandos, tudo se torna ainda mais grotesco quando a sede de sangue e o furor bestial se volta contra aquelas pessoas que deveriam ser companheiros de armas. Acima de todos os vitupérios e de todas as bestialidades já listadas, o monstro descontrolado acaba, por fim, laureando a si mesmo com a coroa da traição. Ao fim e ao cabo, pessoas assim não são melhores do que o mais neurótico stalinista, mas apenas cópias de polaridade política inversa.
Infelizmente, tipos como esse abundam no “meio” anti-esquerda, sobretudo nos ambientes virtuais das redes sociais, em que a distância e o anonimato atuam como um anabolizante no desequilíbrio mental desses sociopatas. No entanto, é preciso, primeiro, saber que tipos mesquinhos como esses jamais desaparecerão. O que urge é manter a tranquilidade e não perder o tempo tentando argumentar. É como quando se é ameaçado por um cão raivoso que, tomado de raiva, ladra e baba e arreganha os dentes, pronto para morder: o melhor é não perder a compostura e, diante do avanço do animal, dar-lhe uma paulada forte e certeira.
Ademais, é preciso também saber que pessoas assim estão fadadas a desaparecerem. Uma vez desnorteados pela paulada e desmascarados diante de todos, esses cães ou metem o rabo pelas pernas e desaparecem, ou simplesmente morrem de inanição, uma vez que seu alimento primordial é a atenção que querem gerar em torno de si (é a isso que se chama, afinal, attwhore).
Há muitos cães raivosos soltos por aí. Isso é fato. E é preciso haver também a disposição para distribuir uma boa porção de bordoadas sobre eles, dispersá-los e acelerar seu processo de ostracismo. Os meios estão aí. E uma coisa eu garanto: em breve, muito vira-lata rosnante e babante vai ser recolhido pela carrocinha. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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