sábado, 30 de maio de 2015

Mulheres atraentes detestam mulheres atraentes.

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Mexo em meus livros e acho Casa de Encontros, do bom escritor inglês Martin Amis. Meio reacionário, mas um cara inteligente e provocador que vale a pena conhecer. É passado na Rússia sob a ditadura bolchevista, que sob Lênin prometeu o céu aos russos e com Stálin e sucessores entregou o inferno. A trama é um triângulo amoroso: o narrador e seu irmão disputam uma mulher sexualmente ousada, à frente de seu tempo. Um trecho me chama a atenção. O narrador diz para sua filha, uma mulher bonita: “Estou prestes a descrever uma jovem extraordinariamente atraente, e a experiência me diz que você não vai gostar, porque é isso o que você também é. E na minha experiência uma mulher atraente não quer nem ouvir falar de outra mulher atraente”.
Amis está certíssimo, como diria o superlativo agregado José Dias. No mundo ideal da mulher atraente, todas as outras seriam parecidas com a Susan Boyle. A mulher atraente prefere ouvir um programa de rádio de uma hora sobre futebol comandado pelo Juca Kfouri a suportar uma referência de segundos a uma rival na beleza. Vibra mais com a desgraça de uma competidora do que com seus próprios triunfos. Examina com a severidade de um aiatolá a outra e enxerga nela instantaneamente todos os defeitos reais ou imaginários, do penteado ao esmalte, passando pelo sotaque e pelo prato que pede ou deixa absurdamente de pedir num restaurante. Condena com ênfase a igual mesmo sabendo-a inocente.
A mulher atraente é, com suas semelhantes, cruel como um cossaco russo e dura como um cigano búlgaro. Mais que frontal, ou rivotril, ou lexotan, ou mesmo a companhia promissora de um homem interessante, o que acalma a mulher a mulher atraente é a visão idílica, majestosa, incomparável de uma mulher-bomba, uma terrorista da estética e dos cuidados mais elementares com o corpo e os trajes. O ódio vai aumentando à medida que o tempo vai passando e a mulher atraente vai deixando de ser atraente, como vimos na entrevista que uma veterana jornalista inglesa fez com Belle de Jour, a abnegada e bem torneada cientista que teve que cobrar 300 libras por hora no sexo para poder pagar o doutorado com que tanto sonhara. Mas disso já falamos e discutimos em outro post.
É para protegê-la das demais mulheres atraentes em sua fúria assassina que a natureza fez que surgíssemos nós, os homens solidários e prestativos, cavalheirescos e gentis. Há uma sabedoria na natureza que me comove e me emociona em alguns de seus capítulos inspiradores. Ter-nos trazido ao mundo para defender a mulher atraente, vítima da psiquê fascinantemente agressiva das pessoas de seu próprio gênero, é um deles. Me faz pensar que há algum sentido na vida, ou pelo menos pode haver

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