segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A dificuldade de se achar um negro bonito no Brasil.

Por Marcos Sacramento

email agencia

Mais de 50% dos habitantes do Brasil se declaram pretos ou pardos, mas para a agência de seleção de elenco +Add Casting, encontrar um ator negro e muito bonito é tarefa hercúlea. Contratada pela produtora Boutique Filmes para selecionar atores para série “3%”, primeira produção brasileira para a Netflix, a agência disparou um e-mail onde deixa subentendido que negros bonitos são exceções entre a maioria da população.
“Precisamos de um ator jovem, na faixa dos 20/25 anos, muito bonito. A direção gostaria que ele fosse negro, então o ideal seria ter um ator negro e muito bonito, mas conscientes do grau de dificuldade, faremos teste também com os bons atores, lindos, que não sejam negros”, diz o e-mail enviado para outras agências, pessoas e instituições.
Na nota com a qual se defende das acusações de racismo, a agência explica que o e-mail foi “mal-interpretado” e que a intenção era levar o maior número possível de atores negros para a seleção de elenco.
“Lamentamos que o referido e-mail tenha circulado pelas redes sociais e internet, acompanhado da ideia de que esta empresa é preconceituosa, pois o problema foi de má colocação das palavras e não de intenção ou de prática preconceituosas”, explica um trecho da nota.
Em outras palavras, o que houve foi só um mal-entendido.
Na explicação palavrosa divulgada no Facebook, a agência revela que possui um cadastro de 1.893 perfis, dos quais apenas 0,04 % são negros. A conta é absurda, pois o resultado é 0,75, que seria menos que uma pessoa (!).
Considerando a hipótese de que o autor da nota tenha se confundido com as vírgulas e o percentual seja 0,4%, haveria, então, sete negros cadastrados na agência, levantando as seguintes dúvidas: existem poucos atores ou modelos negros disponíveis na maior cidade do Brasil ou as agências e produtoras não privilegiam profissionais com este fenótipo?
A primeira possibilidade se evapora diante das várias notícias de protestos de modelos negros exigindo maior participação em grandes eventos de moda no Rio e em São Paulo. Bastaria a agência entrar em contato com os organizadores destes protestos  para conseguir vários perfis que iriam enegrecer o cast e deixa-lo mais parecido com a estrutura cromática brasileira.
Segundo a +Add, a “luta contra todas as formas de descriminação é para nós uma prática e uma defesa cotidiana”. Mas com um percentual irrisório de negros entre os cadastrados fica difícil acreditar nessa luta.

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