20 DE NOVEMBRO DE 2014
Hoje é dia 20 de novembro, instituído como o Dia Nacional da Consciência Negra pelaLei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, no calendário escolar brasileiro. Há poucos anos, a Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, instituiu o dia 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi assim designada porque, de acordo com o governo, o líder negro Zumbi dos Palmares, rei do Quilombo dos Palmares, foi morto no dia 20 de novembro de 1695. Mas quem foi Zumbi dos Palmares?
O Ministério da Cultura, em sua página oficial, diz que “Zumbi foi o grande líder do quilombo dos Palmares, herói da resistência anti-escravagista”. Em seu discurso no encerramento da reunião de chefes de Estado e de Governo do Encontro Iberoamericano de Alto Nível em Comemoração do Ano Internacional dos Afrodescendentes, sediado em Salvador/BA, a presidente Dilma Rousseff referiu-se a Zumbi dos Palmares como “[o] grande herói brasileiro do Quilombo dos Palmares, líder do primeiro grande movimento contra a escravidão.”
A transformação de Zumbi dos Palmares em um herói nacional é uma das maiores falácias da História do Brasil. A imagem de que Zumbi foi um líder revolucionário movido por “grandes sentimentos de amor” – como declarou ironicamente, séculos mais tarde, o argentino Ernesto “Che” Guevara – e que o Quilombo dos Palmares era um paraíso de igualdade e justiça social é uma imagem que em nada condiz com a realidade. Zumbi era um líder autocrático que governava o quilombo com mão-de-ferro. Exigia ser tratado como um rei e que, de fato, recebia a deferência de um estadista não apenas de seus súditos, mas igualmente de representantes do governo colonial. Era sobrinho de Ganga Zumba (“Grande Senhor”), o primeiro Rei de Palmares.
Um fato meticulosamente mantido fora dos registros históricos oficiais é o de que Zumbi dos Palmares enviava esquadrões de ataque para grandes latifúndios não com o intuito de libertar seus irmãos negros do jugo escravista, mas para roubar escravos dos senhores de terra em seu próprio proveito. Sim, Zumbi dos Palmares foi um dos maiores senhores escravistas de seu tempo. E não se engane: aqueles que ousavam fugir do “paraíso” quilombola de Palmares eram perseguidos por experientes capitães-do-mato e, uma vez recapturados, eram torturados e mortos em praça pública – menos de 100 anos depois, algo semelhante (salvas as devidas proporções, claro) foi conduzido em Paris durante a Revolução Francesa, período conhecido como “O Terror”. Assim o atesta José de Souza Martins:
Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões. (MARTINS, José de Souza. Divisões Perigosas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 99)
Hoje, o que se comemora não é, de fato, a “consciência negra” – uma transformação racial da “consciência de classe” da qual falavam Marx, Lênin et caterva –, mas a memória de um aristocrata subsaariano, um membro da “classe dominante” da etnia banto, que agia como qualquer senhor da guerra de sua época: matava, pilhava, destruía e escravizava a seu bel-prazer. É difícil entender isso? Nem tanto. Zumbi era um homem de seu tempo, nem mais, nem menos
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