sábado, 18 de julho de 2015

A emasculação através da moda



Catálogo da H. O'Neill & Co., de Nova York, do final do século XIX.
Catálogo da H. O’Neill & Co., de Nova York, do final do século XIX.
Uma das reclamações mais frequentes que faço a lojas de roupas masculinas se deve às calças: ou são de cintura muito baixa, ou são muito curtas, ou muito apertadas nas pernas. Para mim, homem tem que usar calça na linha da cintura – que, aprendi desde pequeno, fica mais ou menos na altura do umbigo. Hoje, é difícil encontrar uma loja que venda uma calça que não ameace mostrar a cueca, ou que dê a impressão de que o indivíduo que a usa foi envelopado a vácuo.
Mas uma coisa deve ser lembrada: se existe essa oferta tão grande de roupas feias, deve ser porque a demanda por elas é igualmente grande. E, a bem da verdade, a demanda por coisas feias é exponencialmente elevada nos dias de hoje – não apenas, mas também se tratando de vestuário masculino. Quando se anda na rua, o que se vê é uma profusão de peças de roupa inadequadas. Não falo especificamente de tipos de tecido, das cores ou dos cortes – não entendo muito disso, e, portanto, não me aventuro por essa senda –, mas da mensagem que as combinações têm passado. E a mensagem é uma: emasculação.
Claro, não estou falando daqueles homens que se vestem como se fossem moradores de rua – normalmente, estudantes profissionais de ciências humanas de alguma universidade federal. Refiro-me àqueles homens que têm algum apreço por sua aparência, que gostam de se arrumar e se vestir de maneira adequada sem que essa preocupação se converta no centro de suas existências, homens, enfim, que sabem como o vestuário é um dos aspectos da vida humana que não se pode descuidar.
A multitude de calças skinny, mocassins sem meia, camisetas baby look e golas V, camisas sociais feitas sob medida para refugiados de guerra famélicos, tudo em cores suaves e “descoladas”, é enjoativa. Todos esses sinais – somados a cabelos que passam por uma hora de meticulosa arrumação para parecerem que o sujeito acabou de acordar – não indicam que o homem em questão está sabendo se vestir, mas apenas que está seguindo irrefletidamente uma tendência que o torna visualmente efeminado. Não adianta tentar acrescentar barba cerrada ou tatuagens à mostra: isso só piora.
Entendam, eu não tenho nada contra jeans e camiseta. É o que eu mais uso. Mas não seria nada mal usar uma camiseta em que se caiba sem aperto, ou uma calça jeans que não seja uma tentativa de castração mecânica. Também não acho que todos devam andar usando ternos de haute couture com gravatas borboleta e um par de Oxford bem lustrados (ainda que isso não seja lá má ideia, convenhamos). Mas o que é evidente é que a moda masculina tem se tornado cada vez menos masculina e cada vez mais emasculada.
Esse excesso de cuidado o visual tem se revertido, ironicamente, em um descuidado tremendo com a aparência. Na ânsia de seguir tendências e ditames da moda, o homem contemporâneo, com raras e honrosas exceções, tem se parecido cada vez menos com um homem de verdade. E o que se espera de um homem de verdade, afinal? Isto: decisão, postura, um sólido aperto de mão, um tom de voz firme. O modo de se vestir reflete, em maior ou menor grau, a personalidade do homem, e, portanto, a presença ou ausência dessas características. Se há tantos homens se vestindo tão mal, a lógica nos conduz à conclusão de que é porque os homens, no geral, têm perdido aquelas características essenciais que compõem a personalidade do homem viril.
Ser viril, ao contrário do que se propagandeia hoje em dia, não significa ser um troglodita. O homem que imita o comportamento de uma besta irracional não é viril, mas apenas um sujeito animalizado. Virilidade está intimamente relacionada com virtude. E, ainda que ambas as palavras não estejam semanticamente relacionadas, é curioso notar que, coincidentemente, as duas começam com vir, a palavra latina para “homem”.
Diante desse ajuntamento mais ou menos caótico de reclamações à maneira como os homens têm se vestido hoje em dia, é bem possível objetar dizendo que se trata apenas de uma opinião pessoal sem forte embasamento na realidade ou em argumentos. No entanto, basta gastar alguns minutos observando os homens que vêm e vão numa rua no horário de rush ou num estabelecimento comercial movimentado para chegar à constatação de que o homem contemporâneo, sim, perdido a sua masculinidade, substituindo-a por algo que varia desde a afetação efeminada até a agressividade animalesca, e que isso se reflete no modo de se vestir.
É necessário resgatar, no dia-a-dia, a noção de que não há verdadeira virilidade sem virtude, e que não é possível falar de homem, na mais profunda acepção da palavra, sem que haja virilidade. Para isso, basta que se redescubra o valor real do humano, daquilo que nos diferencia dos outros seres e que nos transforma em algo único na Criação.

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