quarta-feira, 22 de julho de 2015

‘O rei devia morrer para que o país pudesse viver': a Revolução Francesa segundo Robespierre


“Sem a virtude, o terror é fatal; sem o terror, a virtude é impotente.”
O líder jacobino Robespierre, o Incorruptível, foi um homem de ação e de ideias. Foi ele, mais que ninguém, que empurrou a Revolução Francesa para o limite, algo que se expressaria com a condenação do rei Luís 16 à guilhotina.  Advogado nascido na pequena Arras, filho intelectual de Rousseau, o libertário autor de Contrato Social, Robespierre não foi exatamente um escritor, mas um articulista. Mesmo assim, dada sua importância colossal, o Diário decidiu entrevistá-lo para a série Conversas com Escritores Mortos.
Monsieur de Robespierre, o senhor foi um dos principais responsáveis pela célebre Revolução Francesa, um evento que mudou a história da humanidade. Assim sendo, muitos o consideram um homem implacável. Concorda com esse severo julgamento?
Não. Punir os opressores da humanidade é sinal de clemência; perdoá-los seria cruel.
Antes de mais nada, o senhor poderia nos dar uma ideia do que serviu de impulso à Revolução?
Omeletes não são feitos sem que antes ovos sejam quebrados. Eis um panorama: – o Crime sodomiza a Inocência para assegurar um trono, e a Inocência luta com todas as suas forças contra os atentados do Crime. Pense bem – é realmente tão irracional, ou mesmos surpreendente, que as pessoas, atormentadas por injustiças que duraram séculos, demandem uma vingança imediata?
As leis francesas até então prejudicavam os pobres, não é mesmo?
Naquela época, não havia leis.
Mas, Monsieur…
Leis que violam os direitos inalienáveis dos homens são essencialmente tirânicas – então, não são leis de modo algum.
E qual foi a solução encontrada pelos revolucionários?
Aristocratas precisavam ser guilhotinados e Luís XVI devia perecer no lugar de centenas de milhares de cidadãos virtuosos; Luís devia morrer para que o país pudesse viver.
Fortes palavras. Para a restauração da ordem do país, foi necessário o episódio do Terror, não é mesmo? Entre os responsáveis por tal, o senhor se destacou. Conte-nos um pouco desse período.
O terror é menos um princípio distinto do que uma consequência natural do princípio da democracia. Ele é a única justiça: Imediato, severo e inflexível.
Dizem que foi uma época muito violenta, e que…
Ora! Não há revolução sem revolução!
Realmente. Mas e a virtude? Como encontrá-la nesse contexto?
Sem a virtude, o terror é fatal; sem o terror, a virtude é impotente.
O senhor poderia desenvolver essa ideia?
O governo, em uma revolução, é o despotismo da liberdade contra a tirania. Sim, a força foi utilizada durante o Terror; mas seria a força necessária apenas para proteger o crime? O fato é que, se a virtude deve sustentar um governo em tempos de paz, o sustento de tal governo durante uma revolução deve ser a virtude combinada com o terror.
O senhor se surpreendeu ao ver como a causa da Revolução foi abraçada e como as pessoas estavam dispostas a entregar suas vidas por ela?
Não é surpreendente. Para amar a justiça e a igualdade, as pessoas não precisam de esforços virtuosos. É o bastante que amem a si mesmas. É tão doce devotar-se aos seus iguais que não sou capaz de entender como pode haver tantos desafortunados que ainda carecem de defensores.
Monsieur, a causa pela qual o senhor lutou triunfou – de certo modo, é claro – mas a guilhotina que impôs a tantos inimigos acabou por alcançá-lo. Isso o incomoda?
Nem tanto; a morte é o início da imortalidade.
Algo a acrescentar?
Nossa revolução me fez sentir a força do axioma de que a história é ficção e estou certo de que a sorte e a intriga produziram mais heróis do que a genialidade e a virtude.
Robespierre confessa à entrevistadora, antes de sair, que ficou muito feliz por ter Danton ter sido guilhotinado antes dele. “Ele não prestava”, diz com um sorriso.

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