sexta-feira, 11 de setembro de 2015

“Ninguém pode reinar inocentemente. Todo rei é um usurpador”. Com a palavra, o Arcanjo do Terror da Revolução Francesa

Louis Antoine de Saint-Just (1767 – 1794) foi um dos mais célebres revolucionários franceses. Conhecido por sua determinação, por sua falta de escrúpulos e por sua beleza, foi apelidado de Arcanjo do Terror. De panfletos escritos por Saint-Just ao longo de sua carreira revolucionária, que terminou com sua própria condenação à guilhotina que havia imposto sobre tantos outros, extraímos as frases que integram esta entrevista.
Saint-Just
Saint-Just
Monsieur, o senhor foi um dos mais célebres revolucionários franceses, e também um dos principais responsáveis pelo período do Terror. Quais são as suas impressões sobre esse momento da Revolução Francesa?
O Terror foi uma atitude ousada, admito, mas a palavra “ousadia” continha toda a política da nossa revolução. Ele aconteceu porque, nas circunstâncias em que a República se encontrava, a Constituição não poderia ser colocada em prática – destruiria a si mesma. Destruir as facções não era o bastante; era necessário reparar o mal que elas fizeram ao país. A história provou que uma nação só pode ser regenerada sobre um acervo de cadáveres. O grandioso navio de nossa revolução poderia aportar apenas por meio de um oceano avermelhado por torrentes e torrentes de sangue.
O senhor passou para a história como o “Arcanjo do Terror” ou o “Arcanjo da Morte” – isso o incomoda?
Não entendo por meio de qual ilusão alguém foi capaz de persuadir o povo de que éramos desalmados. O Tribunal Revolucionário condenou trezentos patifes à guilhotina em um ano. E por acaso a Inquisição Espanhola não fez pior? Como se os tribunais ingleses não tivessem condenado ninguém nesse período, e lhes dado morte muito mais violenta. E quanto aos reis da Europa – por acaso alguém lhes tagarelou tolices sobre bons sentimentos e misericórdia? Sinceramente, minha senhora, não permita que sensibilizem seu coração.
Não permitirei. Quanto aos reis, o..
Quanto aos reis, digo apenas o seguinte: Ninguém pode reinar inocentemente. A loucura de fazê-lo é evidente. Todo rei é um usurpador.
E quanto ao governo?
Enquanto muitas artes produziram milagres, a arte do governo não produziu nada além de monstros. Não encontrei um só homem digno no governo, encontrei bondade apenas no povo.
O que o senhor entende por um homem “digno”?
Um homem digno é aquele que proporciona ao mundo claridade e ordem. Ele faz questão de seguir seu percurso com um passo inexorável, destemido e inabalável como o sol. Todo decreto político que não se basear na natureza está errado.
Como assim?
Sempre me pareceu que a ordem social estava implícita na natureza das coisas em si, e que requeria do espírito humano apenas o cuidado de organizar vários elementos. As pessoas podem ser devidamente governadas sem ser escravizadas ou vitimizadas. O homem nasceu para a paz e para a liberdade, e se tornou miserável e cruel apenas devido a ação de leis insidiosas e opressivas. Creio que, se os homens responderem a leis correspondentes aos preceitos de sua natureza e de seu coração, deixarão de ser infelizes e corruptos.
Qual é a importância de tais leis? Aliás, quem será capaz de colocá-las em prática?
Um legislador competente. O legislador comanda o futuro, de modo que ser fraco não lhe trará nenhuma vantagem. Ele deve decidir o que é bom e perpetuá-lo, porque as leis que trabalham sobre a sociedade podem produzir tanto a virtude quanto o crime, a civilização ou a barbárie. Este era o objetivo final da Revolução Francesa – instituir leis que entrassem em harmonia tanto com a natureza quanto com o coração humano.

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