quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Investimentos da Petrobras caem 16% em 2014


Dyelle Menezes
Petrobras obstruçãoA situação da Petrobras em 2014 vai de mau a pior. A maior estatal brasileira, que ganhou as manchetes com denúncias de corrupção, diminuiu em 16% o valor destinado a obras e compra de equipamentos em 2014. Nos dez primeiros meses deste ano, R$ 65,6 bilhões foram aplicados pela companhia. Em valores constantes, no mesmo período do ano passado, R$ 78,1 bilhões foram investidos. O montante investido entre janeiro e outubro deste ano é o menor desde 2010.
Os dados são do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, do Ministério do Planejamento. Ao todo, desde o começo do ano, a Petrobras já previa investimentos menores. Para 2014, R$ 84,5 bilhões foram orçados para obras e compra de equipamentos, contra os R$ 94,3 bilhões do ano passado. A execução, no entanto, também caiu de 82,7% para 77,6% nos oito primeiros meses do ano.
O levantamento do Contas Abertas foi realizado com base na portaria nº 28, de 28 de novembro de 2014, publicada no Diário Oficial da União de hoje (1). Os valores foram atualizados pelo IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas. A portaria apresentada dados fornecidos pela própria Petrobras e é uma das únicas formas de acompanhamento dos investimentos das estatais brasileiras.
A estatal adiou, no entanto, a divulgação o balanço financeiro depois de pressionada pela auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC) a reconhecer nos números o impacto dos desvios denunciados nas delações premiadas da operação Lava Jato. O atraso na divulgação dos dados trará prejuízo aos acionistas e à União. A empresa também deverá reduzir o pagamento de dividendos, ou seja, a parcela de lucro distribuída aos acionistas, após o ajuste no seu balanço, preveem analistas.
No primeiro semestre, a empresa distribuiu valor recorde de dividendos: R$ 8,731 bilhões, mais que o triplo dos R$ 2,87 bilhões destinados em igual período de 2013 e o maior montante desde o segundo semestre de 2009.
De acordo com o jornal O Globo, os acionistas já vêm sofrendo com a queda no valor das ações. Só em novembro, o valor de mercado da empresa caiu 15,8%, ou R$ 32,5 bilhões. É o mesmo que dizer que a Petrobras em um mês perdeu quase uma JBS, que está sendo negociada a R$ 35,3 bilhões e mais que uma TIM Participações (R$ 30,1 bilhões).
Atualmente, a estatal é a quarta maior empresa em valor de mercado na Bovespa. Já foi a primeira, mas perdeu o posto para a Ambev (R$ 264,6 bilhões) e, depois, a segunda colocação, para o Itaú Unibanco (R$ 201,3 bilhões) e o terceiro lugar para o Bradesco (R$ 163,4 bilhões).
A maior detentora de ações ONs da Petrobras é a União que, junto com o BNDES, possui pouco mais de 60% desses papéis. A outra parcela está pulverizada entre investidores locais e estrangeiros.
No caso das preferenciais, 70% das ações estão divididas entre investidores pessoas físicas, instituições financeiras e empresas, estrangeiras ou não. “A baixa contábil poderá ter impacto relevante sobre os dividendos das ações ordinárias da Petrobras”, afirmam, em relatório, os analistas Paula Kovarsky, Diego Mendes e Pablo Castelo, reforçando que sacrificar esses dividendos pode ser uma forma de se antecipar a restrições de caixa.
O Contas Abertas questionou a Petrobras sobre a diminuição dos investimentos, mas até o fechamento da matéria, não obteve resposta.
Outros problemas
Segundo o economista José Roberto Afonso, no estudo “Tributação versus Subsídios: o Caso Petrobras”, os atos e as estatísticas sinalizam que a Petrobras perdeu autonomia operacional e se transformou em instrumento de governo, mas o problema maior é ser convocada para objetivos contraditórios.
“Se para o curto prazo, precisa contribuir ao controle da inflação com reajuste de preços de derivados inferiores ao exigido por seus custos, no longo prazo precisa investir cada vez mais para explorar as riquezas do pré-sal”, explica.
O resultado inevitável, de acordo com o economista, é o já conhecido endividamento crescente da empresa, mas também a deterioração das necessidades de financiamento, com déficit primário e nominal, bem assim o recolhimento de tributos decrescente em proporção do PIB.
Para o economista da Universidade de Brasília, José-Matias Pereira, o nível de endividamento da Petrobras é assustador. “A atual gestão conseguiu tirar a empresa do nível de melhores para as mais endividadas do mundo”, afirma.
Segundo Pereira, a situação é extremamente grave, pois a empresa é patrimônio do país e está no mercado, ou seja, é acompanhada diariamente por analistas de todo o mundo. “A situação é constrangedora. O nível de credibilidade é muito baixo e o mercado não tem convicção ou certeza para apostar as fichas na Petrobras”, ressalta.
Lava Jato
Desde março, quando foi deflagrada a Operação Lava-Jato, vieram à tona as relações entre o doleiro Alberto Youssef e o ex- diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Os dois foram presos na investigação sobre o esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. A suspeita é de que a organização criminosa tenha atuado no seio da estatal. No mês passado, executivos de nove empreiteiras foram presos acusados de pagar propina para realizar obras da estatal.
Os fatos levaram à criação de duas Comissões Parlamentares de Investigação no Congresso Nacional. As investigações envolvem a compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela Petrobras, que teria causado à estatal perdas superiores a US$ 1 bilhão, suposto superfaturamento envolvendo refinarias da estatal, irregularidades em plataformas. Além disso, as comissões investigam suspeita de que a empresa holandesa SBM Offshore pagou propina a funcionários da estatal e construção do Porto de Suape, em Pernambuco.
Para José-Matias Pereira, apesar de ser prematuro apontar a diminuição de investimentos relacionada à crise, está claro que isso prejudica o desempenho da empresa em vários níveis. “É muito complexo que uma gestão de empresa do tamanho da Petrobras esteja sob suspeição. O que fica em evidência é que a estatal está submetida à interesses escusos e que existe uma quadrilha operando dentro da empresa, o que prejudica desde a imagem da empresa até a capacidade de investir”, explica.

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