A guerra perigosa
“Dilma – ao que tudo indica – chegará ao governo convicta de que a grande mídia é toda contra ela. E boa parte da grande mídia será mesmo – por convicção ou por ter sido empurrada a essa situação pela forma como o governo enxerga o trabalho da imprensa”
Há um saldo perigoso retirado das denúncias e dos acontecimentos das últimas semanas, que culminaram com a demissão de Erenice Guerra da Casa Civil da Presidência. É o acirramento de uma guerra entre o PT e o governo, de um lado, e a imprensa, de outro. Uma guerra que, sem a figura popular e carismática do presidente Lula no país, pode se tornar um bocado perigosa.
Quem me acompanha desde os tempos de Correio Braziliense sabe que essa relação belicosa entre o governo Lula, o PT e a imprensa tem sido um tema de preocupação frequente. É um bocado complicado estabelecer quem começou, quem atirou a primeira pedra e como essa relação tensa se sacramentou.
Lá no começo do primeiro governo Lula, escrevi um artigo no Correio no qual observava que ficava clara uma estratégia de estabelecer com a população um canal direto de comunicação que ultrapassasse a tradicional mediação feita pela imprensa. Ao diminuir o número de entrevistas e o contato com os jornalistas e ao aumentar o número de discursos, Lula deixava claro que não queria que a mensagem do governo fosse pautada pela mídia. Ou seja: ele não queria ser pautado. Ele queria pautar. Em vez de responder às perguntas dos jornalistas, ele mandaria os recados que o interessavam e que a imprensa não poderia ignorar.
Até o episódio do mensalão, não restava à imprensa alternativa que não fosse seguir, por menos que gostasse, essa estratégia do presidente. Qualquer jornalista de Brasília confirmará que essa primeira etapa é marcada pela tentativa de estabelecer contatos, fazer fontes. Alguns se abriam, mas a regra geral era de distanciamento. Ali, começou a se estabelecer a noção de que governo e jornalistas estavam em campos opostos, eram inimigos.
Quanto estourou o mensalão, alguns veículos viram como a oportunidade do troco. Do que era inicialmente apuração jornalística, surgiu um setor que passou a fazer claramente campanha contra o governo, numa certeza de que Lula, fragilizado, não se reelegeria. Alguns veículos passaram a ser ideológicos até nas resenhas que faziam de desenhos animados. O problema é que o governo passou a generalizar, ampliando a visão que tinha dos veículos que assim agiam para o todo.
Até descobrir o que havia de cômodo em se generalizar a visão de uma imprensa golpista. Se ao governo passasse a ser possível classificar como luta política qualquer denúncia que surgisse em jornais e revistas, o lado cômodo dessa situação era que ao governo já não era mais necessário explicar nem esclarecer nada. Tudo pode ser diminuído, tudo pode ser reduzido, desqualificado, a mera “tentativa desesperada do PIG para desestabilizar o governo e a campanha da nossa companheira Dilma”.
Do que aconteceu nas últimas semanas, poderá o PT e o governo desconfiar, de forma justa, do fato de a chuva de denúncias coincidir com a fase final da campanha eleitoral. É justo desconfiar da coincidência de tudo aparecer agora. Mas não é justo colocar tudo no mesmo balaio. Se é exagero – reconhecido pela própria ombudsman da Folha – querer atribuir a Dilma a responsabilidade única por um prejuízo de R$ 1 bilhão no setor elétrico, é um absurdo querer reduzir a jogo político a denúncia contra Erenice Guerra. Não é possível que o filho da responsável por tocar as grandes obras do país abra uma empresa para fazer “consultoria” às empresas que se habilitam para essas grandes obras. É menos possível ainda que esse filho, de fato, viabilize encontros dessas empresas com a sua mãe. É simplesmente inadmissível que ele ganhe dinheiro dessas empresas. Se a motivação inicial da denúncia era política, isso se torna algo menor. A denúncia de que algo assim ocorria um andar acima da cabeça do presidente Lula é o típico serviço público que é papel da imprensa. É para isso mesmo que a imprensa serve.
O que há de ruim e perigoso nisso tudo é que a falta de compreensão sobre o papel de uma imprensa livre, de um lado, e o exagero do engajamento político de alguns veículos contrários ao governo, por outro, criou um cenário de contornos perigosos. Dilma – ao que tudo indica – chegará ao governo convicta de que a grande mídia é toda contra ela. E boa parte da grande mídia será mesmo – por convicção ou por ter sido empurrada a essa situação pela forma como o governo enxerga o trabalho da imprensa.
Dilma não tem o carisma de Lula. Não tem a capacidade de comunicação direta com a população que tem o atual presidente. É incipiente e pouco representativa a imprensa totalmente alinhada ao governo. E seria péssimo, de qualquer modo, para o país trocar uma imprensa contrária por uma imprensa a favor. Uma imprensa laudatória e subserviente é tudo o que um país não precisa. Mas isso não haverá. O que pode haver é um governo que, sem capacidade de relacionamento direto com a sociedade, e às turras com os meios tradicionais de intermediação via imprensa, se isole. Eis aí o perigo.
Como diz o outro, se conselho fosse bom o sujeito não dava, vendia. Mas eu, se fosse Dilma, trataria de dar uma olhada no espectro dos jornais, revistas, TVs e veículos da nova mídia na internet e tratava de estabelecer meus canais preferenciais. Pra não ficar falando sozinha.
Quem me acompanha desde os tempos de Correio Braziliense sabe que essa relação belicosa entre o governo Lula, o PT e a imprensa tem sido um tema de preocupação frequente. É um bocado complicado estabelecer quem começou, quem atirou a primeira pedra e como essa relação tensa se sacramentou.
Lá no começo do primeiro governo Lula, escrevi um artigo no Correio no qual observava que ficava clara uma estratégia de estabelecer com a população um canal direto de comunicação que ultrapassasse a tradicional mediação feita pela imprensa. Ao diminuir o número de entrevistas e o contato com os jornalistas e ao aumentar o número de discursos, Lula deixava claro que não queria que a mensagem do governo fosse pautada pela mídia. Ou seja: ele não queria ser pautado. Ele queria pautar. Em vez de responder às perguntas dos jornalistas, ele mandaria os recados que o interessavam e que a imprensa não poderia ignorar.
Até o episódio do mensalão, não restava à imprensa alternativa que não fosse seguir, por menos que gostasse, essa estratégia do presidente. Qualquer jornalista de Brasília confirmará que essa primeira etapa é marcada pela tentativa de estabelecer contatos, fazer fontes. Alguns se abriam, mas a regra geral era de distanciamento. Ali, começou a se estabelecer a noção de que governo e jornalistas estavam em campos opostos, eram inimigos.
Quanto estourou o mensalão, alguns veículos viram como a oportunidade do troco. Do que era inicialmente apuração jornalística, surgiu um setor que passou a fazer claramente campanha contra o governo, numa certeza de que Lula, fragilizado, não se reelegeria. Alguns veículos passaram a ser ideológicos até nas resenhas que faziam de desenhos animados. O problema é que o governo passou a generalizar, ampliando a visão que tinha dos veículos que assim agiam para o todo.
Até descobrir o que havia de cômodo em se generalizar a visão de uma imprensa golpista. Se ao governo passasse a ser possível classificar como luta política qualquer denúncia que surgisse em jornais e revistas, o lado cômodo dessa situação era que ao governo já não era mais necessário explicar nem esclarecer nada. Tudo pode ser diminuído, tudo pode ser reduzido, desqualificado, a mera “tentativa desesperada do PIG para desestabilizar o governo e a campanha da nossa companheira Dilma”.
Do que aconteceu nas últimas semanas, poderá o PT e o governo desconfiar, de forma justa, do fato de a chuva de denúncias coincidir com a fase final da campanha eleitoral. É justo desconfiar da coincidência de tudo aparecer agora. Mas não é justo colocar tudo no mesmo balaio. Se é exagero – reconhecido pela própria ombudsman da Folha – querer atribuir a Dilma a responsabilidade única por um prejuízo de R$ 1 bilhão no setor elétrico, é um absurdo querer reduzir a jogo político a denúncia contra Erenice Guerra. Não é possível que o filho da responsável por tocar as grandes obras do país abra uma empresa para fazer “consultoria” às empresas que se habilitam para essas grandes obras. É menos possível ainda que esse filho, de fato, viabilize encontros dessas empresas com a sua mãe. É simplesmente inadmissível que ele ganhe dinheiro dessas empresas. Se a motivação inicial da denúncia era política, isso se torna algo menor. A denúncia de que algo assim ocorria um andar acima da cabeça do presidente Lula é o típico serviço público que é papel da imprensa. É para isso mesmo que a imprensa serve.
O que há de ruim e perigoso nisso tudo é que a falta de compreensão sobre o papel de uma imprensa livre, de um lado, e o exagero do engajamento político de alguns veículos contrários ao governo, por outro, criou um cenário de contornos perigosos. Dilma – ao que tudo indica – chegará ao governo convicta de que a grande mídia é toda contra ela. E boa parte da grande mídia será mesmo – por convicção ou por ter sido empurrada a essa situação pela forma como o governo enxerga o trabalho da imprensa.
Dilma não tem o carisma de Lula. Não tem a capacidade de comunicação direta com a população que tem o atual presidente. É incipiente e pouco representativa a imprensa totalmente alinhada ao governo. E seria péssimo, de qualquer modo, para o país trocar uma imprensa contrária por uma imprensa a favor. Uma imprensa laudatória e subserviente é tudo o que um país não precisa. Mas isso não haverá. O que pode haver é um governo que, sem capacidade de relacionamento direto com a sociedade, e às turras com os meios tradicionais de intermediação via imprensa, se isole. Eis aí o perigo.
Como diz o outro, se conselho fosse bom o sujeito não dava, vendia. Mas eu, se fosse Dilma, trataria de dar uma olhada no espectro dos jornais, revistas, TVs e veículos da nova mídia na internet e tratava de estabelecer meus canais preferenciais. Pra não ficar falando sozinha.
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