- Publicado em 25/09/2010
Licença para matar
A sociedade americana, ou pelo menos parte dela, a que vive no Estado da Virginia, um dos 37 Estados onde vigora a pena de morte, fez justiça com as próprias mãos na última quinta-feira ao aplicar a injeção letal em Tereza Lewis, de 41 anos, que confessou ter planejado o assassinato do marido e do enteado em 2002, sob o pretexto de embolsar o dinheiro de um seguro de vida.
Como sempre acontece nessas ocasiões, o “espetáculo” só não é mostrado ao vivo e à cores, mas tudo que cerca a execução daquele ser humano que se quer banir do convivio social é exibido com riqueza de detalhes. O local da execução, a cela assepticamente limpa, a cama onde o condenado será amarado por grossas correias e receberá a dose letal de uma combinação de drogas anestésicas, e o vidro atrás do qual testemunhas especialmente convidadas assistirão ao sacrifício imposto pela sociedade a quem cometeu um crime.
Nos EUA, onde a pena de morte ficou algum tempo desativada enquanto a Suprema Corte examinava a “legalidade” do uso da injeção intravenosa, já vigoraram o enforcamento, a cadeira elétrica, a câmara de gás e até o fuzilamento. No fim de algum tempo, especialmente depois que um condenado foi queimado vivo numa cadeira elétrica, médicos e juristas optaram pela injeção considerando que era uma maneira de matar causando "menos sofrimento" ao executado.
De maneira suave ou não, a morte de uma pessoa, por pior que tenha sido seu crime, é sempre uma demonstração de crueldade. É quando a sociedade se iguala ao criminoso numa espécie de olho por olho, dente por dente.
Particularmente sou contrário à pena de morte por vários motivos, mas principalmente pelo argumento acima, pela maneira fria e calculista como a sociedade arma o carrasco do instrumental que vai tirar a vida do condenado em poucos minutos.
Sei que a coluna vai receber inúmeros comentários, certamente os favoráveis à pena de morte serão maioria, sobretudo daqueles leitores que já tiveram um parente ou amigo assassinado de maneira brutal, e isso não é difícil de se encontrar na maior parte da população brasileira, que convive com índices de violência que estão entre os maiores do mundo.
No caso de Teresa Lewis, que teve o pedido de clemência recusado pelo governador da Virginia, e em última instância pela Suprema Corte, seus advogados argumentaram que foi o caso típico do fracasso da pena de morte. Teresa tinha problemas de aprendizado, alguma coisa parecida com um retardo mental. E só não escapou da execução porque seu QI ficou em 72. Tivesse ela 70 ou menos estaria entre os inimputáveis, conforme a legislação americana.
Quem tirou proveito do episódio foi o presidente do Irã que coincidentemente estava nos EUA na quinta-feira para a Assembléia-Geral da ONU. Ele deu uma cutucada na mídia ocidental que, segundo ele, só se interessa pelo caso de Sakineh, a iraniana condenada à morte por apedrejamento, e esquece de olhar o próprio quintal, onde os EUA executaram uma mulher com probemas mentais.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Licença para matar EEUU
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