Tentativa de suicídio e amor pela arte numa família de samurais que vive num país arruinado pela segunda guerra mundial. Esse não é o resumo de um filme do gênio japonês Akira Kurosawa – é parte de sua biografia.
Copiado e reinterpretado por centenas de diretores americanos e europeus, a obra de Kurosawa introduziu no cinema a temática “chambara” e foi marcada pela transição “wipe” (que posteriormente seria popularizada pelo Star Wars), pelas composições inspiradas na pintura, pelas histórias inspiradas na literatura, e por sequências de ação revolucionárias.
Akira foi o oitavo e último filho de uma família de classe média de Tóquio. Estudante de artes plásticas, teve forte influência do irmão Heigo no gosto pelo cinema – ele era narrador de filmes mudos no começo do século, mas com o advento dos filme sonoros, ficou desempregado e se suicidou.
Em 1935, Akira ingressou profissionalmente no cinema. Três anos depois, se tornou assistente de direção.
Sua estreia como diretor aconteceu em 1943, com o filme “A Saga do Judô”. Na época, foi considerado pela censura do governo fascista “muito britânico-americano”. Mas cortando 18 minutos, ele pôde ser lançado. O trecho de filme cortado da edição original jamais foi encontrado novamente.
Em 1945, após fazer a contragosto um filme de propaganda do governo, Kurosawa começou a filmar um trabalho que, durante sua produção, era visto como “muito ocidental” pela censura japonesa. Ironicamente, quando o filme ficou pronto, o Japão já havia se rendido e a ocupação americana começado. Os censores americanos proibiram seu lançamento por ser japonês de mais.
Com o fim da guerra, Kurosawa lançou “Trono Manchado de Sangue” e posteriormente seu mais célebre filme deste período, “Cão Danado”, que mostra o Japão durante a dura recuperação no pós-guerra.
Em 1950, Kurosawa lançou “Rashomon”, que acabaria ganhando o Leão de Ouro, prêmio mais alto do Festival de Veneza. O filme tem uma narrativa bastante diferente para os padrões da época, e sugere que não há verdade absoluta sobre um evento quando dois personagens têm pontos de vistas diferentes.
Aí, então, o filme acabaria sendo distribuído nos EUA e o diretor estaria lançado para o mundo. Com isso, Kurosawa voltou ao estúdio onde começou a trabalhar, e ali faria seus próximos 11 filmes. Neste momento, as produções do diretor seriam cada vez mais populares e teriam mais e mais dinheiro disponíveis.
É aí que ele lança, no começo dos anos 1960, “Yojimbo – O Guarda Costas”, seu maior sucessos nos EUA. E, posteriormente, sua continuação, “Sanjuro”, que também obteve êxito.
Em 1966, Kurosawa foi para Hollywood, onde lançou seu primeiro filme a cores, “Expresso Para o Inferno”. Mas seu projeto mais ambicioso estava por vir: Junto com a Fox, Kurosawa lançaria um filme que retrataria o ataque a Pearl Harbour tanto do ponto de vista japonês quanto do americano. Mas Kurosawa havia escrito um roteiro que teria 4 horas, e a Fox queria um filme de 90 minutos.
Ele desistiu do projeto. O filme acabou saindo, dirigido na prática por Kinji Fukasaku e Toshio Matsuda, com o nome de “Tora! Tora! Tora!”. Kurosawa, então, entrou em uma crise emocional e criativa que incluiria uma tentativa de suicídio no começo dos anos 70.
Nos anos 80, George Lucas e Francis Ford Coppola acabariam co-produzindo dois épicos de Kurosawa, “Kagemusha – A Sombra de Um Samurai” e “Ran”. O diretor ainda viveu bons momentos até seu último e póstumo filme, “Depois da Chuva”, de 1993, que foi terminado por seu discípulo Takashi Koizumi.
Kurosawa jamais se aposentou. Conviveu até seus últimos dias com o cinema, a arte que ele ajudou a desenvolver e a dar forma.
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