A trama digna de folhetim – aliás, mais uma em Brasília! – da CPI da Petrobras está no seguinte pé: Renan Calheiros, pressionado pela oposição e pela própria bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, diz agora que vai bancar duas CPIs distintas para investigar as irregularidades na decaída estatal. Uma teria só os senadores. A outra, senadores e deputados.
Isso, em teoria, favorece ao governo – vez que pulverizar entre as duas Casas as apurações e convocações a depor enfraqueceria a tese de uma linha mestra a ser adotada pelos adversários de Dilma. Mas quem deu bobeira foi a própria oposição, encabeçada pelo PSDB. Ao entrar no STF com pedido de liminar para garantir que a Petrobras fosse o único alvo da comissão, e não “desvios em obras em geral”, como queria a base governista, tucanos e companhia esqueceram-se de citar a sigla CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito).
Com a manobra, Renan ficou na berlinda e agora tenta evitar mal-estar com o compadre Henrique Alves, presidente da Câmara. Alves quer porque quer ver os deputados também interrogando Graça Foster, Gabrielli e outros petistas que administraram a Petrobras. Como bem citou Humberto Costa, líder do PT no Senado, corre risco de a CPI virar palanque eleitoral.
Aí é que vem o grande nó da história. Os parlamentares já combinaram que agosto e setembro serão meses de marcha lenta no Congresso. Fora as atenções voltadas para a Copa do Mundo, em junho e julho, a CPI tem pouquíssimo tempo para gerar resultados. Sejam eles efetivos na elucidação do desastre da compra da refinaria em Pasadeña ou só eleitorais mesmo, para os nobres políticos abocanharem renovações de seus mandatos no pleito de outubro.
A verdade é que a Petrobras sempre foi usada como objeto político pelos congressistas, por causa de seu tamanho e das vultuosas quantias que movimenta. A primeira CPMI da Petrobras aconteceu em 1989, no finzinho do governo Sarney. Investigava misteriosas desativações de campos de perfuração no Pará e no Amazonas e o escândalo da nafta importada. A segunda, só do Senado, foi aberta por um requerimento do tucano Álvaro Dias em 2009, mas sepultada pelas mãos de Renan e Fernando Collor, que articularam um esvaziamento aparelhando a comissão com maioria avassaladora governista. Fazia poucos meses do anúncio da descoberta do pré-sal.
Agora, com Dilma em queda livre nas pesquisas, o tucanato e boa parte da base vai-não-vai do PMDB e nanicos têm duas oportunidades de dar o tiro de misericórdia na candidatura petista. Mas é bem provável que nenhum disparo a acerte a ponto de ser letal.
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