sábado, 2 de fevereiro de 2013

Investimentos da Eletrobras são os menores dos últimos quatro anos

Enquanto se discute os blackouts, apagões e eventual racionamento, o Grupo Eletrobras, composto por 19 empresas do setor de energia elétrica, investiu apenas R$ 5,9 bilhões em 2012. O montante representa 69,1% dos R$ 8,5 bilhões previstos para ano. O valor é a menor aplicação da companhia nos últimos quatro anos. A estatal é responsável por atividades de pesquisa, geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, além da comercialização do setor. Os dados são do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Veja tabela aqui.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar Almeida, os dados demonstram dois problemas. “Primeiramente, a dificuldade com o andamento das obras, que neste setor possuem entraves ambientais, oposição de sindicatos, greves. A outra razão é que as empresas do setor elétrico, principalmente, as do Grupo Eletrobras, são controladas financeiramente pela Pasta do Planejamento, o que possivelmente acarreta contingenciamento”, explica.
Questionada pelo Contas Abertas, a Eletrobras afirmou que não considera baixa a execução de 69% do orçamento. “Os investimentos só não foram maiores devido às dificuldades com ações judiciais e outros obstáculos fora do controle da Eletrobras enfrentadas por alguns dos empreendimentos dos quais a empresa é sócia”, explicou a assessoria.
A empresa ressaltou que os dados do MPOG só contabilizam o desempenho do investimento corporativo, ou seja, os realizados em empreendimentos tocados diretamente pelas empresas Eletrobras. “As inversões financeiras da empresa, ou seja, aquelas que ocorrem por meio das Sociedades de Propósito Específico (SPEs) não entram nesse cálculo, embora também sejam consideradas como investimentos. Com esses dados, o investimento realizado da Eletrobras chegou, em 2012, a R$ 9,9 bilhões, o que representa 80% do orçamento previsto para o ano, de R$ 12,3 bilhões”.
As principais obras do grupo evidenciam as dificuldades de investimentos. A implantação da usina termonuclear de Angra 3, com capacidade de 1.309 MW, no Rio de Janeiro, de responsabilidade da Eletronuclear é um exemplo. Do total de R$ 1,4 bilhão previsto para ser aplicado em 2012, apenas R$ 579 milhões, o equivalente a 42%, foram desembolsados.
Segundo a Eletrobras, as obras foram iniciadas em 2010 e a previsão é de que a unidade entre em operação em dezembro de 2015. Com Angra 3, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 50% da eletricidade consumida no estado do Rio de Janeiro.
As etapas de construção da unidade incluem as obras civis, a montagem eletromecânica, equipamentos e sistemas e os testes operacionais. “Cerca de 40% do volume total de concreto estrutural já foi executado – o que representa aproximadamente 20% do progresso das obras civis. Quatro mil pessoas estão trabalhando no canteiro, sendo que 75% são moradores da região onde a usina está sendo instalada”, afirma site.
Outras três grandes ações envolvendo a região Nordeste, que sofreu com problemas de energia no ano passado, também tiveram execução em “marcha lenta”. Na ação de ampliação do sistema de transmissão de energia elétrica foram aplicados R$ 334,9 milhões dos R$ 498,8 milhões previstos para o exercício.
Já para a iniciativa “reforços e melhorias no sistema de transmissão de energia elétrica na Região Nordeste” foram investidos apenas 37,6% dos R$ 368,7 milhões autorizados para o ano, o equivalente a R$ 138,5 milhões. Na rubrica “implantação do Parque de Geração de energia eólica, em Casa Nova, na Bahia” também foram aplicados 47,1%, o que corresponde a R$ 148,4 milhões, dos R$ 314,9 milhões autorizados em orçamento.
Segundo Almeida, o baixo investimento nesse setor pode ser uma das causas para o aumento dos blackouts no Brasil. “O aumento no número de blackouts aumentou nos últimos dois anos em razão dos gargalos no sistema de transmissão e também das distribuidoras”, explica.
Para o professor, o problema de manutenção pode também estar associado ao fato de que estamos com um perfil de geração diferente do que vinha sendo usado. “No Brasil houve queda nos reservatórios e por isso estamos utilizando cada vez mais termoelétricas. Assim, o fluxo e os pontos da geração mudam. Há, então, que se alterar a infraestrutura de geração e aumentar a capacidade de alguns pontos, que antes não eram utilizados, mas agora passam a serem utilizados mais frequentemente e com um nível menor de segurança. Por isso a Eletrobras precisa fazer os investimentos. Na medida em que esses investimentos não saem no ritmo desejado, aumenta a possibilidade de blackout”, conclui.
O professor destacou que é preciso diferenciar blackout de apagão. “Apagão é racionamento de energia. Não tem tanta relação com os investimentos, mas como essa capacidade geradora está sendo utilizada. Se estamos usando de forma muito mais intensiva o sistema hidrelétrico, gastando reserva que nós temos e se não chove há um problema de risco e de falta de abastecimento. Nesse caso, não vejo relação com a falta de investimentos”, esclarece.

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