sexta-feira, 27 de maio de 2011

Orquestra Jovem da Bahia empolga público em Londres




Vários dos músicos não tinham sequer 20 anos completos enquanto os 2.800 espectadores os aplaudiam de pé no Royal Festival Hall, em Londres. A apresentação, no último dia 21 de maio, foi a primeira de uma orquestra brasileira na cinquentenária casa de concerto.
A marca coube à Orquestra Jovem da Bahia, fundada pelo pianista e maestro Ricardo Castro. Os cerca de 80 músicos tocaram ao lado do pianista chinês Lang Lang, 28, uma das maiores celebridades da música clássica atual.
"Muitos deles não sabiam tocar um instrumento há quatro anos, e hoje estão aqui", disse Castro à Folha, enquanto assistia ao ensaio final do concerto. O artista, nascido na Bahia e que se mudou para a Suíça, não achava, até 2007, que fosse possível formar músicos eruditos em seu Estado. Até que, após uma visita à Venezuela, tomou conhecimento do projeto El Sistema, criado em 1975, que hoje agrupa 30 sinfônicas e oferece educação musical a 250 mil jovens.
Vendeu a ideia de adaptar El Sistema ao secretário da Cultura da Bahia, o qual topou levá-lo adiante, desde que Castro fosse o diretor artístico. Nascia então o Neojibá (Núcleo de Orquestras Jovens da Bahia), que oferece o ensino gratuito de instrumentos a jovens em Salvador, independente da classe social da qual eles vêm.
"Nunca acreditei em programas restritos a comunidades. A inclusão não se faz dentro dos guetos", diz Castro.

Rogério Lima/Divulgação
O maestro Ilych Rivas (à esq.) e o pianista Lag Lang agredecem os aplausos no palco do Royal Albert Hall, em Londres, com a Orquestra Jovem da Bahia ao fundo
O maestro Ilych Rivas (esq.) e o pianista Lag Lang agradecem aplausos com Orquestra Jovem da Bahia ao fundo

O projeto havia sido reconhecido já no ano passado, quando a orquestra viajou a Londres para uma curta temporada no Queen Elizabeth Hall. A repercussão rendeu o novo convite, agora para uma sala maior e ao lado de Lang Lang.
O repertório pedido foi igualmente menos modesto: "As Fontes de Roma", de Ottorino Respighi; "Concerto para Piano nº 2", de Chopin; a suíte "O Pássaro de Fogo", de Stravinski; e a "Rapsódia em Azul", de George Gershwin.
A sinfônica recebeu a encomenda no último mês de fevereiro. "As Fontes de Roma" eram um problema em particular, pois exigiam uma estrutura que o Neojibá não dispunha: duas harpas, por exemplo, e uma celesta --um pesado instrumento de teclado. A organização, em vão, tentou riscar a obra do concerto. A solução foi tomar emprestadas duas integrantes da London Youth Orchestra.
JOVEM MAESTRO
A insistência em manter a obra de Respighi veio do maestro convidado para o evento, Ilyich Rivas. "As obras escolhidas são cheias de energia, assim como as orquestras jovens", justifica.
Em seu currículo, o venezuelano contabiliza dois anos como regente-assistente da sinfônica de Baltimore, além de participações em grandes eventos, como o concerto da sinfônica do YouTube em Sidney, no último mês de março. Em Londres, regeu tanto Respighi quanto Stravinski sem partitura, de memória.
Rivas completa 18 anos em junho. Iniciou-se na regência ainda criança, e teve o pai, Alejandro, também maestro, como o primeiro professor. Apesar de criado nos EUA, passava as instruções aos músicos brasileiros em espanhol, durante os ensaios. Nos intervalos, Alejandro, sempre presente, lhe dava conselhos em particular.
"Fui para a Bahia no começo de maio conhecer a orquestra. É milagroso o trabalho que eles fazem por lá", comenta.
Lang Lang, por sua vez, só entrou em contato com os músicos no dia anterior ao do concerto, mas tem opinião semelhante: "Eles não devem nada às orquestras jovens de qualquer outra parte do mundo".
EXPERIÊNCIA
O pianista conhece boa parte do mundo. Reside em Pequim e Nova York, mas passa apenas um mês por ano em cada uma de suas casas. Do Brasil, que visitou em 2005, guarda boas lembranças dos churrascos e da vida noturna.
Mesmo jovem, tem currículo invejável. Já tocou ao lado da Filarmônica de Berlim, de Herbie Hancock e se apresentou inúmeras vezes para chefes de Estado. Foram cinco só na Casa Branca.
"Não há diferença alguma entre tocar com nomes consagrados ou com músicos jovens", diz Lang. "Toda vez que entro no palco, o faço com o mesmo comprometimento."
À BRASILEIRA
Com a plateia ainda de pé, a orquestra começou o bis, "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, numa inédita versão para piano e orquestra, feita por um integrante do Neojibá. Lang Lang mantinha sua partitura sob o instrumento e virava as páginas com as próprias mãos, durante a execução.
Enquanto isso, os músicos se levantavam da cadeira em movimentos ensaiados, giravam em torno dos cellos, violinistas dançavam aos pares. Entre risadas e palmas da plateia, um casal da orquestra começou a sambar. O concerto acabou em samba.
Folha.com
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