sábado, 18 de junho de 2011



Salvador é uma baderna, a verdadeira “casa de mãe Joana”. Uma cidade que tem ojeriza à organização, a disciplina, a ordem, aos limites, ...baiano gosta de avacalhação. Soteropolitano ama ser “largado”. Quanto mais bagunçado, melhor. Sujeira, desordem e falta de educação, na Bahia, são expressões de cultura e arte.

Para os baianos, organização é coisa de fresco, chato, metido, cê-dê-efe, menino amarelo, otário, abestalhado, mulherzinha, patricinha, mauricinho, menino criado com vó, paulista, falso moralista, preconceituoso, racista, político de direita, capitalista, imperialista, intelectual, vizinho, chefe, amigo.... baiano que é baiano tem que ser “baderneiro”.

Baiano que é baiano cospe no chão, urina na rua, joga lixo no chão, pela janela do carro, do ônibus ou apartamento, grita, fala alto, ouve som alto, não respeita fila, fura o sinal vermelho, estaciona em vaga de idoso, anda pelo acostamento, come de boca aberta, fala de boca cheia, limpa o nariz e passa a mão na roupa, vai a cerimônias vestido como se fosse a uma festa de largo, tem um português sofrível, usa idosos e crianças para furar fila, não lê placas informativas, não respeita nada e nem ninguém.

Não há distinção. Rico ou pobre, se for baiano é mal educado, não respeita regras ou limites, se revolta contra qualquer ato ou pessoa que proponha organização. Na Bahia o “jeitinho brasileiro” tem a sua pior versão. Baiano não quer pagar estacionamento, abadá, festa, couvert, camarote, taxas, tarifas, multas, impostos, condomínio, prestações... a regra geral é "de grátis”. Baiano está acima da lei e da ordem. Os patrocinadores de eventos sofrem com os “urubus de cortesia”. Os donos de bares sofrem com os “serrões”.

Respeitar regras é privação de liberdade e baiano é livre. Ser organizado é retroceder ao período da ditadura militar e baiano é democrático. Aqui todos podem tudo. Cada um faz o que quer e bem entende. Salvador é a terra da alegria e alegria não tem limites. Tudo em Salvador é um “cacete armado”. Tudo é feito a “migué”. Do shopping à bodega. Do aeroporto à rodoviária.

Em todos os ambientes sociais, da praia ao escritório, organização, disciplina, regras, limites, são ofensas. O chefe, o síndico, o vizinho, o colega de trabalho que tentar colocar ordem, será imediatamente taxado de "cheio de nove horas”.

Nos shoppings ou na rua, praias ou piscinas, restaurantes ou botecos, teatros, cinemas, tem-se uma tarefa de paciência e tolerância diante de tanta falta de educação, tanta falta de ordem, tanta falta de regra, disciplina, limites, de leis sérias.

Adultos arrogantes, prepotentes e mal educados são intocáveis, todos são donos da “verdade”. Tudo é motivo para gritar e humilhar um garçom, um balconista, um motorista, a secretária ou um ascensorista. Tudo em nome de defender os seus direitos. “Eu sei os meus direitos” uma sentença sempre pronunciada de “boca cheia”.

Ninguém que saber de seus deveres ou obrigações, só dos direitos. Nunca os direitos dos outros. Só os seus direitos. O vizinho não tem direito. O colega de trabalho também não tem. As regras, os limites, a organização, são para os outros e só podem valer para si, se lhe trouxer algum beneficio.

Os países civilizados que são invejados, imitados e desejados, só são civilizados porque possuem organização, disciplina, ordem e limites. Limites rígidos que todos obedecem e os que não obedecem, são severamente punidos, independente do status social. Mas, aqui em Salvador não há limites. E baiano quando vai a Europa paga “mico” por sua completa falta de educação e civilidade.

Tá desempregado, coloque um isopor em qualquer lugar para vender qualquer coisa. Tá precisando de um terreno maior para sua piscina, invada o terreno ao lado. Tá precisando estacionar, pare na vaga do vizinho. Tá com pressa, fure a fila. Tá atrasado, fure o sinal vermelho. Tá endividado, sonegue. Tá triste, ligue o som bem alto. Tá com a mesa suja, sacuda a tolha da mesa pela janela. Em Salvador pode tudo!

Ser infrator é motivo de orgulho. Fazer o certo é coisa de “vacilão”. Dirigir acima do limite de velocidade permitida é ato de heroísmo. Dirigir a 80 km/h é coisa de imbecil. Furar a fila do elevador é sinal de esperteza, não de falta de educação.

Em Salvador alegria é sinônimo de “esculhambação”. Irreverência é sinônimo de baderna. Descontração é sinônimo de desrespeito. Liberdade é libertinagem. O importante é ser feliz na “quebradeira”.

E a culpa de tudo isso é do governo. Coitado do governo, responsável pela educação doméstica, pelo caráter, pela personalidade dos cidadãos. Ninguém quer ser responsabilizado e o mais fácil é culpar o governo, este ente abstrato, capaz de aliviar o peso das responsabilidades alheias, os defeitos e pecados de todos.

O comércio informal e os empresários “mangueiam” a cidade. O poder público e o cidadão comum, também. Ricos e pobres se misturam na balburdia urbana. Todos, sem exceção, fazem questão de mostrar que são “livres” e como tal não precisam ter o mínimo de compostura e respeito à vida em sociedade. Na cidade do Salvador há um pacto tácito de mediocridade.

Aceitamos como normal e natural vivermos numa cidade “esculhambada” e ficamos esperando que um “super-homem” venha resolver o caos. Achamos normal e natural sermos mal educados, não respeitarmos regras, normas, limites, ordem ou disciplina.

E assim vamos vivendo, fingindo

Carlos Moura

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