Clubes das três Forças foram obrigados a desautorizar texto que atacava duas ministras por defenderem a revogação da Lei da Anistia
Tânia  Monteiro
BRASÍLIA - Os  presidentes dos Clubes Militares foram obrigados ontem a publicar uma nota  desautorizando o texto do "manifesto interclubes" que criticava a presidente  Dilma Rousseff por não censurar duas de suas ministras que defenderam a  revogação da Lei da Anistia. Logo depois, porém, tanto o comunicado original  como o desmentido foram retirados do site em que foram divulgados.
Dilma não  gostou do teor da nota por não aceitar, segundo assessores do Planalto, qualquer  tipo de desaprovação às atitudes da comandante suprema das Forças  Armadas.
A presidente  convocou o ministro Celso Amorim (Defesa) para pedir explicações. Ele se reuniu  com os comandantes das três Forças, que negociaram com os presidentes dos clubes  da Marinha, Exército e Aeronáutica a "desautorização" da publicação do  documento, divulgado no site do Clube Militar no dia 16, como revelou o Estado  na terça-feira.
No dia  seguinte, houve a reunião de Amorim com os comandantes das três Forças e uma  conversa com a presidente. Paralelamente a essa movimentação, os comandantes  telefonaram aos presidentes dos três clubes a fim de que a nota crítica a Dilma  fosse suprimida.
Ontem, o  "comunicado interclubes" foi retirado do site no início da tarde. Por volta das  16 horas, foi divulgado um outro texto, em que os presidentes desautorizavam o  comunicado anterior. Esse desmentido, porém, não chegou a ficar meia hora no ar.  O Clube do Exército, para tentar encerrar a polêmica, retirou a nota e o  desmentido, mas a celeuma já estava criada.
Críticas.  Apesar de terem sido obrigados a recuar e, com isso, não criar uma crise  militar, os presidentes dos clubes não se conformam com as críticas que têm  recebido e temem que a Comissão da Verdade só ouça um dos lados na hora de  trabalhar.
Os presidentes  dos clubes da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, e da Marinha,  almirante Ricardo da Veiga Cabral, disseram que em momento algum quiseram  criticar a presidente. Para eles, a nota foi uma "precipitação", no momento em  que os principais assuntos para a categoria são a defasagem salarial e a  necessidade de reaparelhamento das Forças.
O almirante  Veiga Cabral, no entanto, classificou como "provocação" as falas das ministras  das Mulheres, Eleonora Menicucci, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.  Eleonora, em seu discurso de posse no início do mês, teria tecido "críticas  exacerbadas aos governos militares". Já Maria do Rosário teria incentivado, mais  de uma vez, que pessoas que se considerassem atingidas por fatos ocorridos  durante a ditadura poderiam ingressar com ações na Justiça.
"Não podemos  ficar parados. É natural que haja uma reação porque não é possível ficarmos  sendo desafiados de um lado e engolirmos sapo de outro. A vida é assim, a cada  ação tem uma reação", comentou. O almirante ressalvou que embora os militares,  mesmo na reserva, estejam sujeitos ao Estatuto dos Militares, "os clubes não  estão subordinados ao Poder Executivo".
Depois de  ressaltar também a "independência" dos Clubes Militares, lembrando que "não é o  governo nem os comandos" que mandam na instituição, o brigadeiro Baptista  endossou as palavras do almirante que "estranhou" as declarações das duas  ministras.
"Não quero  tocar fogo, mas não podemos admitir que queiram amordaçar os clubes. Não podem e  não vão conseguir fazer isso", disse.
wwwcamacarimagazine.blogspot.com
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FONTE: O  ESTADO DE S. PAULO em 24/02/2012
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