terça-feira, 26 de outubro de 2010

Debate: Serrae Dilma


No penúltimo embate antes do segundo turno das eleições, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) preferiram apostar em temas já conhecidos e mencionados por ambos durante a campanha para partir para o ataque. Sem surpresas, a discussão sobre privatizações foi um dos assuntos mais recorrentes. Outrora protagonista, a polêmica sobre o aborto foi apenas citada desta vez. Acontecimentos mais recentes, como a agressão ao tucano, no Rio de Janeiro, e a denúncia, revelada por VEJA, de que o Ministério da Justiça recebeu e rechaçou pedidos de produção de dossiês contra adversários, ficaram de fora. O debate foi realizado na noite desta segunda-feira, em São Paulo.
O confronto já começou quente. Coube a Dilma abrir a rodada de perguntas da noite, indagando a Serra sobre o que ele pretende fazer com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe do governo Lula, no Nordeste. O tucano chamou o PAC de “lista de obras”. “É muito mais saliva e propaganda”. Dilma revidou o ataque, dizendo que o adversário estava “enrolando” e que as obras foram todas tiradas do papel. Uma amostra de que a troca de acusações iria permear todo o confronto. E um ensaio para o último debate, o mais esperado antes das eleições – da TV Globo, na sexta-feira.
Petrobras – A questão das privatizações entrou em pauta já no segundo bloco, por iniciativa de Serra. O tucano questionou a estratégia, amplamente explorada pela petista durante a campanha, de afirmar que ele vai privatizar a Petrobras e o pré-sal, caso seja eleito, e que queria mudar o nome da estatal para Petrobrax. Enquanto ela insistia, ele revidada, chamando-a de mentirosa. A discussão durou mais da metade do bloco.
“Estão querendo privatizar o filé mignon, a carne de pescoço era o que existia antes”, afirmou Dilma. “Dilma tem dito mentirosamente que eu quero privatizar a Petrobras. Ela é uma profissional dessa arte (da mentira). Quem está mentindo aqui?”, disparou Serra.
A saraivada de acusações mútuas passou por nomes já citados, ligados a escândalos. De um lado, Serra lembrou a ligação de Dilma com a ex-ministra Erenice Guerra, que caiu após a revelação, por VEJA, de um esquema de tráfico de influência e lobby do qual o filho de Erenice, Israel Guerra, fazia parte. De outro, a petista mencionou as acusações de que Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, desviou dinheiro de campanhas tucanas.
Dilma lembrou que Erenice prestou depoimento à Polícia Federal (PF). O tucano aproveitou para falar do ex-ministro José Dirceu, réu no processo do mensalão – o maior escândalo do governo Lula. Disse que a adversária testemunhou para ele.
Meio ambiente – Pela primeira vez nos debates pré-segundo turno, o meio ambiente entrou em pauta. A iniciativa foi de Dilma. Em uma clara estratégia de caça aos votos verdes, Dilma falou sobre as metas de Copenhage. “Eu tenho um compromisso claro com essas metas”, declarou. O compromisso já foi citado pela candidata derrotada Marina Silva (PV) como ponto favorável de Dilma.
A petista perguntava sobre desmatamento na Amazônia. O tucano prometeu desmatamento zero. Aproveitou para citar várias vezes o nome de Marina Silva e do PV. “A nossa Lei de Mudanças Climáticas é a melhor da América do Sul e a terceira melhor do mundo”, garantiu Serra. Dilma replicou: ‘Quero insistir na questão nacional, porque quando o assunto é Brasil o desafio é muito maior”.
Guerra de expressões – Os candidatos inovaram em algumas expressões adotadas ao longo do debate. Dilma disse várias vezes que Serra “está enrolando”. Diante da insistência, Serra respondeu: “Dilma está enrolada”.
Outros termos já citados em ocasiões anteriores, como “trololó”, foram mencionados de novo. Durante o debate, Serra pediu para que Dilma falasse de saúde. Exigiu propostas concretas e não “trololó”. Ela reagiu, dizendo que o tucano usava o termo quando estava nervoso. “Não digo que tem ‘trololó’ quando fico nervoso, mas quando acho engraçado”, retrucou Serra.
(Mirella D’Elia, de São Paulo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário