terça-feira, 12 de outubro de 2010

A História de Lúcia (verdadeira)

A história de Lúcia

Desde que o câncer de mama passou a ser um fantasma na vida das mulheres em todo o mundo, várias campanhas foram feitas, mas nem sempre eficazes pois a desinformação sobre o  assunto pode fazer mais vítimas do que se imagina. Quando se lê números em sites, revistas e jornais à distância, não se tem a real dimensão do problema de uma mulher com câncer de mama em estado avançado.
Agora, enfrentando de perto o problema com a minha única irmã, tive a visão correta sobre o drama de uma vítima da doença. Por isso, como jornalista e mulher resolvi relatar aqui a trajetória de Lúcia, 63 anos, como um alerta a outras mulheres que como ela achavam que nunca passariam por uma situação como essa algum dia. Mas, infelizmente, para ela, esse dia chegou ...
Lúcia é uma pessoa alegre, comunicativa, solidária e por isso, desde muito jovem, conquistou vários amigos e amigas por onde passava. Muitos ela conserva até hoje e estão a seu lado nesses momentos difíceis . Ela sempre foi do tipo “cuca fresca” e  apesar de lutar contra a balança desde jovem, aparentava estar sempre feliz e otimista. Não havia nada que a desestimulasse de viver e curtir as viagens pelo mundo que fez durante muitos anos com o marido. Diabética, por ser obesa, levava sempre entre os pertences de viagem a insulina. Adorava almoçar com sua turma de amigas, ir ao shopping, assistir séries enlatadas na TV, acompanhar noticiários e navegar na Internet. Sempre alegre e muito, muito forte em todos os momentos da vida.
Há três anos ela não fazia mamografia e quando eu ficava no pé dela cobrando a necessidade do exame ela me respondia: "E se der positivo?" .  O tipo de resposta de uma pessoa ignorante ou desinformada, mas essa não era o caso dela. Era medo mesmo.
E, como Lúcia, tenho encontrado muitas e muitas mulheres que sentem o mesmo temor de descobrir que têm a doença e estariam irremediavelmente condenadas à morte.  Sem dúvida, não é por falta de campanhas de alerta que as mulheres não procuram os métodos preventivos do câncer de mama, mas será que não seria necessária uma campanha mais efetiva e agressiva nesse sentido?
Hoje mesmo comprei num supermercado perto de casa alguns objetos, todos de cor rosa, que fazem parte da campanha mundial contra o câncer de mama, com o objetivo de angariar fundos para ajudar no tratamento da doença, mas eu quero mais. Talvez um manual com o passo a passo para que as mulheres saibam desde cedo as formas de prevenção da doença e como agir cedo, antes que o mal se estabeleça em seu corpo passando para outros órgãos do corpo.
Talvez por isso, sem informações que verdadeiramente a amedrontassem e a fizessem procurar os exames preventivos, é que Lúcia acabou descobrindo só em fevereiro deste ano que tinha,  sim, um caroço no seio do tamanho de uma noz que ela não tinha percebido pois ele não se fazia sentir ao simples apalpar.Ela o descobriu quando sentiu uma dor aguda no local, o que a fez procurar ajuda médica,  pois pressentiu que algo estranho estava acontecendo em seu seio. Mas não imaginava que aquele sinal iria levá-la a uma trajetória amarga e dolorosa.
O caroço era maligno, extremamente agressivo. Lúcia teve que tirar o seio e imediatamente começou as seções de quimioterapia. Quando faltava a última, seu organismo não resistiu e ela teve uma brusca baixa de imunidades que a levou a um grau acima da septicemina, segundo os médicos, ao choque séptico, do qual pouca gente consegue sair viva. Mas, Lúcia venceu. Sobreviveu.
Depois de 15 dias na UTI, mais 20 no quarto comum, cheia de hematomas e escaras nas costas, sem conseguiur andar, fazendo diálise, uma cirugia para a retirada da vesícula que não estava comprometida pelo câncer mas repleta de pedras e em vias de uma plástica para a reconstrução da pele danificada pelas escaras, Lúcia continua lúcida e forte. Mas tão forte que é ela que nos dá coragem e otimismo para acreditar em sua recuperação. Quando a vi, com o rosto e o corpo inchados pela diálise e pelos remédios, a cabeça sem um fio de cabelo e aqueles lindos olhos verdes embaçados, quase escondidos pelas pálpebras pesadas pelo cansaço e por tanto sofrimento, tive que respirar fundo, bancar a forte. Quando me viu ela chorou feito uma criança desprotegida dizendo: "Olha só como eu estou sofrendo..."
É duro, muito duro a gente ver alguém que se ama dessa maneira,  maltratada por uma doença maldita mas que infelizmente tem que ser temida por sua agressividade. A única maneira de vencê-la é não lhe dando oportunidade de se estabelecer.
Apesar de ter se descuidado, parece que Deus, a vida, o universo e mais todas as forças que a gente sabe que existem, deram uma segunda chance a Lúcia. Passo a passo ela vem se recuperando, vai para casa nos próximos dias com um atendimento”home care” pago pelo seu seguro saúde e, segundo ela, agora com todo esse susto, promete não vacilar mais, não temer os exames preventivos pela vida, que sempre nos reserva surpresas, boas ou más. Depende de nós estarmos prontos a curti-las ou enfrentá-las. Lúcia se encaixa nos dois casos e com certeza vai aproveitar agora a oportunidade de sobrevivência com olhos bem abertos.
A propósito, você, amiga leitora, tem feito seus preventivos regularmente? No vídeo abaixo você vai ver funcionários de um hospital americano que se uniram aos esforços de combate ao câncer de mama mostrando, com a cor rosa da campanha.  ( Veja o vídeo )

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