Quem são e para onde irão os eleitores de Marina?
“Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor do que ela”
Antônio Augusto de Queiroz*
A resposta à pergunta acima será dada pelas pesquisas qualitativas que estão sendo feitas pelos institutos de pesquisa e pelas urnas no dia 31 de outubro, mas já é possível antecipar algumas constatações desse processo eleitoral, que está em fase de decantação. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor do que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor e menos verde que ela.
A senadora Marina Silva foi apresentada pela intelectualidade e pela mídia como a candidata ideal: mulher, religiosa, de origem humilde, comprometida socialmente, defensora do meio ambiente, honesta e sem o suposto radicalismo do PT nem o conservadorismo do PSDB. Seria a terceira via, embora não dispusesse de grande estrutura partidária, tempo de televisão e recursos para uma campanha presidencial.
Com esse perfil, Marina recebeu votos de um eleitorado difuso, que pode se classificado em quatro grupos: a) o da fadiga, b) o flutuante, c) o da revanche ou do troco, e d) o convicto. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor do que ela.
O primeiro grupo, da fadiga, é composto por eleitores que não estão satisfeitos com o PT nem têm saudades do PSDB. Esse grupo descarregou seus votos na Marina menos por convicção e mais por considerá-la uma candidata simpática, honesta, boazinha, que poderia, eventualmente, se converter numa terceira via. Foi falta de opção.
O segundo grupo, o flutuante, foi determinante para levar a eleição para o 2º turno. É composto de eleitores pendulares, que não queriam José Serra, estiveram indecisos um período, declararam votos para Dilma, mas próximo da eleição desistiram e votaram em Marina.
Esse grupo é muito heterogêneo. É formado por eleitores que não gostaram dos escândalos no governo (quebra de sigilo e episódio da Casa Civil) e também se deixaram influenciar pelos boatos de que a candidata Dilma era a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e que teria declarado que “nem Cristo" tiraria sua eleição em primeiro turno.
Especula-se que neste grupo, formado majoritariamente por potencias eleitores de Dilma, inclui-se até gente de partidos da base aliada, que, certo da vitoria da candidata governista, teria (por ação ou omissão) consentido levar a eleição para o 2º turno como forma de reduzir o poder do PT e forçar uma negociação política em novas bases, inclusive com o fortalecimento dessas forças na coordenação de campanha.
O terceiro grupo, o da revanche ou do troco, é formado por pessoas que antes votavam no PT, mas que se sentiram traídas ou chateadas com determinadas políticas públicas ou com a postura das autoridades.
Esse grupo inclui, por exemplo, os aposentados do serviço público que tiveram que pagar contribuição previdenciária, os pensionistas que tiveram redução na pensão, os servidores que não tiveram reajuste, além de pessoas que resolveram punir o PT por suposta arrogância no Governo.
O quarto grupo, o da convicção, é formado pelos eleitores que tem certeza do voto, ou seja, acham que Marina é mais preparada para governar e possui o melhor programa. É um grupo heterogêneo, formado majoritariamente por intelectuais, jovens, por pessoas de classe média alta e também por gente humilde. Seu universo, entretanto, não passa de 5% do eleitorado brasileiro ou um terço dos votos da Marina.
Entre os postulantes à Presidência da República, Marina foi poupada pelos dois principias candidatos, José Serra e Dilma Rousseff, ambos interessados em seus votos, na hipótese, que afinal se confirmou, de 2º turno.
Ninguém poderá afirmar, com certeza, para quem irão esses votos, se para Dilma ou Serra, ou, se ainda, serão anulados. O mais provável é que estes votos sejam distribuídos igualmente entre Dilma, Serra e abstenção ou nulos. Neste caso, se Dilma mantiver os votos do primeiro turno e acrescentar mais um terço dos votos dados a Marina terá sua eleição assegurada. É essa a minha aposta.
*Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e autor dos livros Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis e Por dentro do Governo – como funciona a máquina pública.
A resposta à pergunta acima será dada pelas pesquisas qualitativas que estão sendo feitas pelos institutos de pesquisa e pelas urnas no dia 31 de outubro, mas já é possível antecipar algumas constatações desse processo eleitoral, que está em fase de decantação. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor do que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor e menos verde que ela.
A senadora Marina Silva foi apresentada pela intelectualidade e pela mídia como a candidata ideal: mulher, religiosa, de origem humilde, comprometida socialmente, defensora do meio ambiente, honesta e sem o suposto radicalismo do PT nem o conservadorismo do PSDB. Seria a terceira via, embora não dispusesse de grande estrutura partidária, tempo de televisão e recursos para uma campanha presidencial.
Com esse perfil, Marina recebeu votos de um eleitorado difuso, que pode se classificado em quatro grupos: a) o da fadiga, b) o flutuante, c) o da revanche ou do troco, e d) o convicto. Minha hipótese é de que o peso político de Marina Silva é menor que os votos que recebeu e que seu partido, o PV, é menor do que ela.
O primeiro grupo, da fadiga, é composto por eleitores que não estão satisfeitos com o PT nem têm saudades do PSDB. Esse grupo descarregou seus votos na Marina menos por convicção e mais por considerá-la uma candidata simpática, honesta, boazinha, que poderia, eventualmente, se converter numa terceira via. Foi falta de opção.
O segundo grupo, o flutuante, foi determinante para levar a eleição para o 2º turno. É composto de eleitores pendulares, que não queriam José Serra, estiveram indecisos um período, declararam votos para Dilma, mas próximo da eleição desistiram e votaram em Marina.
Esse grupo é muito heterogêneo. É formado por eleitores que não gostaram dos escândalos no governo (quebra de sigilo e episódio da Casa Civil) e também se deixaram influenciar pelos boatos de que a candidata Dilma era a favor do aborto, da união civil de pessoas do mesmo sexo e que teria declarado que “nem Cristo" tiraria sua eleição em primeiro turno.
Especula-se que neste grupo, formado majoritariamente por potencias eleitores de Dilma, inclui-se até gente de partidos da base aliada, que, certo da vitoria da candidata governista, teria (por ação ou omissão) consentido levar a eleição para o 2º turno como forma de reduzir o poder do PT e forçar uma negociação política em novas bases, inclusive com o fortalecimento dessas forças na coordenação de campanha.
O terceiro grupo, o da revanche ou do troco, é formado por pessoas que antes votavam no PT, mas que se sentiram traídas ou chateadas com determinadas políticas públicas ou com a postura das autoridades.
Esse grupo inclui, por exemplo, os aposentados do serviço público que tiveram que pagar contribuição previdenciária, os pensionistas que tiveram redução na pensão, os servidores que não tiveram reajuste, além de pessoas que resolveram punir o PT por suposta arrogância no Governo.
O quarto grupo, o da convicção, é formado pelos eleitores que tem certeza do voto, ou seja, acham que Marina é mais preparada para governar e possui o melhor programa. É um grupo heterogêneo, formado majoritariamente por intelectuais, jovens, por pessoas de classe média alta e também por gente humilde. Seu universo, entretanto, não passa de 5% do eleitorado brasileiro ou um terço dos votos da Marina.
Entre os postulantes à Presidência da República, Marina foi poupada pelos dois principias candidatos, José Serra e Dilma Rousseff, ambos interessados em seus votos, na hipótese, que afinal se confirmou, de 2º turno.
Ninguém poderá afirmar, com certeza, para quem irão esses votos, se para Dilma ou Serra, ou, se ainda, serão anulados. O mais provável é que estes votos sejam distribuídos igualmente entre Dilma, Serra e abstenção ou nulos. Neste caso, se Dilma mantiver os votos do primeiro turno e acrescentar mais um terço dos votos dados a Marina terá sua eleição assegurada. É essa a minha aposta.
*Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e autor dos livros Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis e Por dentro do Governo – como funciona a máquina pública.
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