General diz que não olha pelo espelho retrovisor
Roldão Arruda
Convidado pelo Instituto Plínio Corrêa de
Oliveira para falar sobre o papel e os desafios atuais do Exército, o comandante
militar da Região Sudeste, general Adhemar da Costa Machado Filho, aceitou logo
o convite. Na noite de quinta-feira, ele falou durante uma hora e vinte minutos
para cerca de 200 pessoas, em um clube na Avenida Paulista, em São Paulo. O
clima no auditório era de intensa expectativa. Por duas razões.
A primeira era o fato de o evento ter sido
programado em meio às tensões entre o governo Dilma Rousseff e militares da
reserva - por causa da Comissão da Verdade. A segunda estava na origem do
convite: veio de uma instituição ultraconservadora, que disputa o título de
legítima herdeira da Tradição, Família e Propriedade (TFP), uma das organizações
civis que ajudaram na montagem do golpe militar de 1964. Na primeira fila
encontravam-se o príncipe d. Bertrand de Orleans e Bragança, que postula o
título de herdeiro da monarquia brasileira, e o empresário Adolpho Lindenberg,
presidente do instituto.
O general de quatro estrelas não correspondeu
ao clima de tensão. Bem-humorado e comunicativo, deu a entender que a agitação
da reserva não tem a repercussão que se imagina nos quartéis. Os novos oficiais
estão preocupados com a profissionalização.
As queixas entre eles devem-se à lentidão na
liberação de recursos para a modernização de seus equipamentos. "Somos o quinto
país em extensão territorial e a sexta economia do mundo. Um país como esse
precisa de Forças Armadas à altura da posição que ocupa", disse Machado
Filho.
Ao final, o mestre de cerimônias fez ao
general, como se citasse um bilhete encaminhado da plateia, a seguinte
observação: "O que mais tenho ouvido é elogio ao período militar, em comparação
com a situação atual. Urge uma intervenção. Caso contrário seguiremos nessa
senda nefasta em direção à ditadura da qual nos livramos em 1964."
O general juntou as mãos e, após breve
silêncio, respondeu: "Dias atrás me perguntaram: "General, quando os senhores
voltam?" Respondi: "Nunca mais. O Brasil mudou"."
Em outro momento, ele falou sobre a vocação
democrática do Exército: "Somos um instrumento do Estado brasileiro a serviço do
governo eleito democraticamente".
A escolha dos políticos, segundo Machado Filho,
é atribuição da sociedade.
Não falou diretamente sobre Comissão da
Verdade, mas não a esqueceu: "Nós olhamos para o futuro. Não olhamos pelo
espelho retrovisor".
FONTE:
O ESTADO DE S. PAULO
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