sábado, 16 de abril de 2011

Caças... Para quê?


"Quanto mais influentes nos tornamos como nação, mais fortes teremos que ser para defender as nossas riquezas"
Sérgio Ernesto Alves Conforto*
Como militar e general da reserva tenho sido questionado sobre a decisão de o governo brasileiro investir cerca de US$ 10 bilhões na aquisição de 36 caças a jato de última geração para a Força Aérea Brasileira, mesmo sem inimigos aparentes.
O questionamento, compreensível em um país como o Brasil com tantas carências na educação, na saúde e na segurança pública, entre tantas outras, surge da falta da percepção dos diferentes poderes de uma nação.
O poder é a capacidade (não confundir com o potencial) de uma pessoa, empresa, instituição ou país alcançar o que almeja. Quando os objetivos de uma nação são confrontados ou quando a mesma deixa de exercer o seu poder, seu espaço é cobiçado e ocupado por outras. É dai que surgem os conflitos e as guerras. Foi assim na enorme perda de território do México para o poderoso vizinho norte-americano.
O fortalecimento das Forças Armadas está inserido nas cinco dimensões de poder de uma nação. O poder político é a solidez das suas instituições, a estrutura de governo, a capacidade de influência nos organismos internacionais e construir alianças estratégicas. O poder econômico é o tamanho do PIB (Produto Interno Bruto), do comércio internacional, das indústrias, da produção agrícola, do acúmulo das reservas internacionais, da circulação e da distribuição das riquezas. O poder científico-tecnológico vem do grau de conhecimento produzido e acumulado, da inovação aplicada na saúde e bem estar da sua população. A preservação da cultura, a educação, o temperamento, a religiosidade, a solidariedade e as aspirações de um povo estão no poder psicossocial de um país.
Já o poder militar é a capacidade do emprego da força de ataque e de defesa em prol dos objetivos nacionais e contra as ameaças externas ou internas aos outros níveis de poder. Em uma nação forte, as relações entre as diferentes esferas de poder devem ser harmônicas e uniformes. A preponderância de uma sobre as outras, por exemplo, provocou a queda da antiga União Soviética. Gigante nos campos militar, científico-tecnológico e na política internacional, fracassou nos campos psicossocial, econômico e político.
Ser rico e fraco é se expor à cobiça dos ambiciosos e mais fortes. O Brasil está em franco processo de desenvolvimento, na exploração de suas riquezas e conquista de mercados. As reservas de água, petróleo e de minério, a biodiversidade amazônica, constituem patrimônio inestimável para as atuais e futuras gerações.
O Brasil é um país pacífico por excelência, perfeitamente satisfeito com o seu território, amparado por tratados, e auto-sustentável em recursos naturais. As atividades das forças armadas tem se destacado, sim, na manutenção da paz em outros países em conflito.
Não passa pela estratégia militar brasileira agredir, invadir, conquistar territórios que não nos pertença. Mas é preciso acenar, de forma convincente, aos olhos cobiçosos que não faltam. Quanto mais influentes nos tornamos como nação, mais fortes teremos que ser para defender as nossas riquezas. Investir na defesa territorial, naval e aérea é investir na paz.
* General reformado e professor do Curso de Pós-graduação de “Estratégia Militar para a Gestão de Negócios” da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP)
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