sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os 100 anos de um valente Assis



Nascido em 19 de março de 1911 e separado dos pais muito cedo, o baiano de Santo Amaro, José de Assis Valente, teve uma infância bastante conturbada. Há até mesmo uma lenda segundo a qual teria sido raptado aos seis anos de idade por um homem de nome Laurindo que não se conformava em ver criança tão brilhante em um local tão pobre. O fato é foi criado pela família Canna Brasil que, se por uma lado o explorava com trabalhos domésticos, lhe permitiu estudar, o que era incomum para os pobres agregados daquela época. Ser alfabetizado muito o ajudaria no incerto futuro que o esperava. Assis Valente, mais tarde, diria que, mesmo criança, "trabalhava como um condenado", com sua "patroa" o tratando quase como um escravo.

Ainda menino, sua família adotiva resolve se mudar para Salvador. Graças à intervenção do avô de criação, consegue ser levado junto para a capital do Estado, onde teria que se virar sozinho, porquanto logo os Canna Brasil partiram para o Rio de Janeiro. O sustento do garoto viria de uma vaga de lavador de frascos em uma farmácia do Hospital Santa Isabel. Sua esperteza chamou a atenção de um padre - o padre Tolentino - que lhe ajudou a arrumar um trabalho de farmacêutico. Fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios e profissionalizou-se como especialista em prótese dentária.

Aproveitando o intervalo de uma apresentação circense, em determinado dia, ele pula para o picadeiro e começa a declamar os versos de uma poesia de sua autoria. Agradou tanto que foi agregado ao circo, atuando, a partir daí, como orador e comediante. Nesse circo, vagou pelo interior baiano por cerca de um ano, após o qual voltou para Salvador retomando seus estudos

No Rio de Janeiro já em 1927, trabalha como protético e consegue publicar alguns desenhos. Incentivado por Heitor dos Prazeres, começa a compor seus primeiros sambas. O primeiro, "Tem Francesa no Morro", tornou-se sucesso na voz de Araci Cortes em 1932. E como confirmação de que seu nome começava a despertar a atenção de cantores famosos, nesse mesmo ano, Moreira da Silva também grava um 78 rpm com duas músicas de sua autoria, a marcha "Pra Lá de Boa" e o samba "Oi, Maria".


 

No ano seguinte, 1933, acontece seu estouro em todo o Brasil; o novato Carlos Galhardo alcança o estrelato ao lançar Boas Festas, uma canção natalina de Assis (composta quando estava solitário no quarto onde morava, na Praia de Icaraí, em Niterói, em pleno Natal), que se tornou um fenômeno de popularidade, acabando por se transformar na canção natalina mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que atravessou os tempos

Mais tarde conhece Carmen Miranda e passa a compor sambas especialmente para ela, como "Good Bye, Boy" e "Etc". Carmen foi a maior intérprete dos sambas de Assis Valente. "Minha Embaixada Chegou", "Uva de Caminhão", "Camisa Listrada", "E o Mundo Não Se Acabou" e "Recenseamento" foram algumas composições de Assis eternizadas pela Pequena Notável.

A música mais famosa do compositor, "Brasil Pandeiro", no entanto, foi rejeitada por ela. Carmen achou a letra muito "borocoxô", que não emplacaria. O samba que começa dizendo "chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor" provou-se um grande sucesso com Léo Vilar e Os Novos Anjos do Inferno (ouvir no player acima), em 1940, e regravada pelo grupo Novos Baianos mais de 30 anos depois, de novo com sucesso.





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