sexta-feira, 6 de abril de 2012

Os 100 dias de Mariano Rajoy no governo da Espanha


 

O saldo dos primeiros cem dias do governo do conservador Mariano Rajoy é uma greve geral, o castigo de um mercado que não tem nenhum tipo de paciência política, a perda de mais de meio milhão de votos nas eleições regionais, o aumento do desemprego e um puxão de orelhas de seus sócios europeus porque, segundo eles, não está fazendo bem o tema de casa, já que não fez todo o ajuste necessário no orçamento 2012 para por fim à crise. O artigo é de Oscar Guisoni.

Com apenas 100 dias de governo já deu para perceber que são os piores 100 dias enfrentados por um presidente desde o retorno da democracia, em 1977. Neste período, Mariano Rajoy já teve que enfrentar uma greve geral, o castigo insolente de um mercado que não tem nenhum tipo de paciência política, o desgaste inusitado nas eleições regionais em que perdeu mais de meio milhão de votos, o encorpado aumento do desemprego que supostamente ele iria domar, um enfrentamento latente com seus aliados do nacionalismo de centro-direita da Catalunha e até um puxão de orelhas de seus sócios europeus porque, segundo eles, não está fazendo bem o tema de casa, já que não fez todo o ajuste necessário no orçamento 2012 para por fim à crise.

Neste contexto desolador, no qual os conflitos sociais e o descontentamento nas ruas crescem como espuma, o Partido Popular apresentou o orçamento para o presente ano. O ajuste é brutal e supera, com sobras, o primeiro que José Luís Rodríguez Zapatero realizou e que foi qualificado em seu momento como o “mais contundente da historia recente”. 27 bilhões de euros a menos que no ano passado, com o objetivo de reduzir o déficit fiscal de 8,5 para 5,3%. As prioridades do corte são uma declaração de princípios: a pesquisa científica perde 35%, o incentivo ao cinema outro tanto, haverá 166 milhões de euros a menos para bolsas de estudo, 28% a menos para o Plano Nacional de Drogas, 39% a menos para atender pessoas idosas e 21% menos para destinar à prevenção à violência de gênero, 42% de corte para a atenção à infância e 43% para os serviços sociais básicos. Já para a Casa do Rey só cortaram 2% e, como se o pão e circo fossem parte deste insólito programa, só cresce o gasto no item desportos, ao mesmo tempo em que se anuncia uma redução no destinado para cobrir o seguro desemprego, algo que ninguém sabe muito bem como se conseguirá, já que a destruição de empregos alcançou um ritmo sem precedentes nos últimos meses e tudo indica que não fará mais que aumentar.

Às resistências que os ajustes despertam, Rajoy tem respondido com seu parco estilo galego: “Tem coisas que nem os próprios membros do partido gostam”. Mas não existem alternativas. Ao menos esse é o chavão com o qual a direita, acompanhada em coro pela quase totalidade da imprensa, tenta colar em uma opinião pública a cada dia mais cética e furiosa. A magnitude dos problemas políticos que esta vigorosa política de corte neoliberal traz consigo é difícil de quantificar: à greve geral mais contundente em décadas, soma-se um conflito sindical setorizado, detonado nos últimos meses. Mas não são os trabalhadores nem os jovens, entre os quais o desemprego alcança 50%, os únicos “indignados”. A magnitude dos cortes em infraestruturas e obras públicas – este ano será gasto a metade do que foi gasto em 2010, um ano já marcado pela crise - deixou contra o governo inclusive os conservadores da Convergencia I Unió que governam a Catalunha e que foram os mais duros profetas do ajuste regional nos últimos tempos.

Os mercados respondem a tudo isto como sempre: pedindo mais. Na última segunda-feira a Bolsa de Madri deixou 2,71% no caminho e a taxa de risco que mede a confiança no país para honrar sua dívida pública disparou até os 364 pontos. As praças financeiras franzem o cenho diante da forte recessão que se avizinha e que elas mesmas contribuíram para criar e Berlim e Paris olham cada vez com mais desconfiança para Madri, em um ano no qual deverão desembolsar cerca de 60 bilhões de euros para permitir ao país honrar sua dívida. Para completar a piada macabra desta crise sem fim, a chanceler alemã Ângela Merkel se permitiu afirmar em um debate público que “se vemos que necessitamos gente na Alemanha e, na Espanha há 40% de jovens sem trabalho, não vamos trazer imigrantes de fora”.
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